Diferentes partes do corpo podem ser acometidas por uma doença autoimune. Estima-se que este tipo de enfermidade atinja 8% da população mundial e algumas delas são de ordem reumatológica.
Isso quer dizer que elas atingem o sistema musculoesquelético, podendo causar sintomas nos ossos, articulações, cartilagens, ligamentos, tendões e músculos. Neste texto, exploramos o desenvolvimento deste tipo de doença, seus principais tipos e possibilidades de tratamento. Acompanhe!
O que significa ter uma doença autoimune?
Quando uma pessoa sofre de uma doença autoimune, isso significa que o seu organismo desenvolve anticorpos que atacam células saudáveis do corpo, pois as reconhece como invasores. Dessa forma, o paciente passa a sofrer diversos sintomas relacionados aos tecidos atingidos.
Como se manifesta uma doença autoimune?
A forma como uma doença autoimune se manifesta vai variar conforme o tipo de problema. Entretanto, existem alguns sintomas comuns em quase todas as suas variações, como:
- Dor nas articulações;
- Cansaço;
- Mal-estar;
- Anemia;
- Perda de peso;
- Sensação de fraqueza;
- Diarreia e outros problemas abdominais;
- Manchas pelo corpo.
Principais tipos
Há diversas doenças reumáticas de origem autoimune e que necessitam de tratamento para controle dos sintomas. Elas podem ser diagnosticadas após uma consulta com o reumatologista.
Lúpus eritematoso sistêmico
Lúpus é uma doença que causa inflamações em diversas partes do corpo. Ela pode se manifestar de forma lenta e gradual ou se desenvolver completamente em semanas. O paciente passa por fases em que os sintomas estão totalmente ativos e outras em que há uma remissão.
A enfermidade é classificada em 2 tipos:
- Cutânea: se manifesta na pele e causa manchas;
- Sistêmica: atinge também os órgãos internos.
Os sintomas do lúpus incluem algumas manifestações comuns desse tipo de doença, como fraqueza e emagrecimento, mas também pode apresentar sinais específicos conforme os órgãos atingidos, como dor nas articulações, inflamação nos rins, alterações neuropsiquiátricas e inflamação das membranas que recobrem os pulmões.
O diagnóstico ocorre após uma análise dos sintomas, mas o reumatologista pode se embasar em alterações encontradas nos exames de sangue e urina. O problema se manifesta em qualquer sexo e em qualquer idade, mas é um pouco mais comum em mulheres entre os 20 e os 45 anos.
Síndrome Antifosfolípide também é uma doença autoimune
A síndrome antifosfolípide é uma doença autoimune que causa uma inflamação no sangue. Isso desencadeia casos de trombose e leva mulheres a sofrerem com diversas complicações na gravidez, como pressão alta e prematuridade do bebê, além de abortos repetitivos.
Quando o paciente sofre de trombose em uma das veias, é mais comum que o problema se manifeste nos membros inferiores, causando inchaço, dor e vermelhidão no local. Mas quando uma artéria é atingida, o sintoma principal é o acidente vascular cerebral.
O diagnóstico da doença depende da combinação de dois fatores: pelo menos uma manifestação clínica da doença e presença nos exames de sangue dos anticorpos antifosfolípides.
Além disso, a doença é classificada em 3 tipos:
- Primária: surge de forma independente, sem sinais de outras enfermidades autoimunes;
- Secundária: é marcada pela presença de outras enfermidades autoimunes, como o lúpus;
- Catastrófica: é uma manifestação rara da doença, em que ocorrem diversas tromboses que podem causar disfunção em vários órgãos.
Síndrome de Sjögren
A Síndrome de Sjögren é uma doença reumatológica em que anticorpos são produzidos para atacar células saudáveis nas glândulas lacrimais e salivares. Sendo assim, o principal sintoma é uma sensação de secura na região dos olhos e na boca, mas também podem surgir outros sinais:
- Secura no nariz, pele e vagina;
- Fadiga;
- Artrites;
- Acometimento de outros órgãos, como cérebro, fígado, pulmões e rins.
O diagnóstico costuma se iniciar em uma consulta com o oftalmologista, que, ao suspeitar de que se trata de um problema reumatológico, encaminha o paciente para o reumatologista. Este especialista irá avaliar os sintomas e procurar por alterações em exames de sangue, radiológicos e outros.
Assim como a síndrome antifosfolípide, a síndrome de Sjögren é classificada em primária e secundária.
Artrite reumatoide
A artrite reumatoide é um processo inflamatório crônico que atinge as articulações, causando dor, vermelhidão, rigidez e edemas. Embora possa se manifestar em qualquer parte do corpo, os sintomas são mais comuns nas mãos e punhos.
Essa doença autoimune provoca a destruição das cartilagens articulares, o que resulta em deformidades e limitações de movimentos. De forma menos comum, ela pode atingir outros órgãos, como rins, coração e pulmões.
A artrite reumatoide é duas vezes mais incidente em mulheres, com os primeiros sintomas apresentando-se entre os 30 e 40 anos e tornando-se mais comuns com o envelhecimento. Para confirmar o diagnóstico é fundamental que o paciente apresente pelo menos 4 das condições abaixo por um período de 6 semanas:
- Artrite nas mãos;
- Artrite em 3 áreas;
- Alterações radiográficas;
- Fator reumatoide no sangue;
- Nódulos reumatoides;
- Rigidez nas articulações durante a manhã;
- Artrite simétrica, ou seja, atingindo dois lados do corpo, como as duas mãos.
Miosite é uma doença autoimune que afeta a musculatura
A miosite é uma doença autoimune que afeta a musculatura de pessoas que possuem alguma suscetibilidade de ordem genética para o problema. Assim, os músculos sofrem alterações que levam à degeneração e à inflamação.
Os principais sintomas da enfermidade incluem fraqueza muscular, que dificulta a realização de alguns movimentos simples, sensibilidade e, em alguns casos, atrofia dos músculos das regiões pélvica e escapular.
Além disso, a doença pode atingir órgãos importantes e prejudicar seu funcionamento, como esôfago, faringe e coração. Por outro lado, os músculos das mãos, do rosto e dos pés costumam ser menos afetados.
A miosite é mais comum no sexo feminino, havendo o dobro de casos em mulheres quando comparado aos homens. Os dados dessa doença autoimune também mostram que ocorrem de 3 a 4 vezes mais casos em pessoas negras.
O diagnóstico da doença requer uma avaliação clínica e também a realização de uma biópsia muscular, usada para confirmar o quadro. Além disso, o exame é importante para estabelecer uma diferenciação entre os tipos da enfermidade. Ainda, realizam-se alguns exames laboratoriais em pacientes com miosite, permitindo, entre outras vantagens, avaliar a gravidade do quadro.
Apesar de não haver cura, a enfermidade é tratada pelos reumatologistas, que conseguem alcançar longos períodos de remissão, sobretudo quando o problema é acompanhado durante muitos anos. No entanto, isso não impede que os sintomas retornem a qualquer momento. Assim, o início precoce do tratamento é fundamental, já que a doença pode evoluir de forma rápida e agressiva, sobretudo em crianças.
Doença mista do tecido conjuntivo
A doença mista do tecido conjuntivo é uma síndrome de ocorrência rara que apresenta sinais de diversas doenças reumatológicas, como esclerose sistêmica, lúpus e polimiosite. Ela ocorre quando há a presença de um anticorpo específico, chamado de anti-U1-RNP.
A enfermidade é mais comum em mulheres e surge principalmente da adolescência até os 20 anos, mas pessoas de todas as raças e em qualquer parte do mundo podem sofrer dessa doença de origem desconhecida. Os principais sintomas, presentes em 75% dos pacientes com a doença, são:
- Fenômeno de Raynaud, em que há alterações na coloração dos dedos devido a uma contração excessiva dos vasos sanguíneos diante do frio, causando desconforto;
- Edemas nas mãos e ulcerações nas pontas dos dedos;
- Artrite, geralmente não deformante;
- Fraqueza muscular próximo às articulações afetadas;
- Comprometimento pulmonar, renal e até cardíaco em alguns casos.
Conforme as manifestações encontradas, o paciente pode ter um longo período de sobrevida e se ver livre dos sintomas por anos.
Policondrite recidivante também é uma doença autoimune
Essa rara doença autoimune é um tipo de inflamação das cartilagens na região da orelha e do nariz, mas que também pode atingir outras regiões do corpo, como olhos, rins, articulações, vasos sanguíneos e coração.
Os primeiros sintomas costumam ser dor aguda e edema na cartilagem da orelha, seguidos pela inflamação da cartilagem nasal e pelo desenvolvimento de artrite em várias articulações. Posteriormente, ocorre a inflamação de outras áreas do corpo.
Essa doença alterna entre fases de atividade e remissão, mas pode prejudicar severamente as áreas afetadas, causando sua degeneração. O número de casos é similar em ambos os sexos e o problema costuma surgir durante a meia-idade.
O diagnóstico ocorre após uma análise clínica do paciente, em que é esperado que ele apresente ao menos 3 dos seguintes sintomas:
- Disfunções auditivas;
- Condrite bilateral de orelha externa;
- Inflamação nos olhos;
- Condrite nasal;
- Artrite;
- Condrite no sistema respiratório.
Havendo suspeitas, a confirmação do diagnóstico pode ser feita por meio de uma biópsia.
Esclerodermia
A esclerodermia é uma doença marcada por alterações na pele que causam o seu endurecimento. Entretanto, órgãos internos e pequenos vasos sanguíneos também são afetados. Classifica-se o problema em localizado, quando se restringe a uma área da pele, e sistêmico, quando ataca a pele e outras estruturas.
Sendo muito mais comum em mulheres, a doença se manifesta principalmente na quarta década de vida e, assim como outras doenças autoimunes, suas causas são desconhecidas.
Quando o diagnóstico ocorre precocemente, há um melhor prognóstico, já que é possível controlar os sintomas e impedir seu avanço rápido. Nesse contexto, deve haver um cuidado especial com a versão sistêmica difusa, já que o comprometimento dos órgãos internos pode ocorrer em um período curto, geralmente inferior a 5 anos.
Durante a análise do reumatologista, ele irá procurar sinais do fenômeno de Raynaud, já que essa manifestação está presente em mais de 90% dos pacientes com esclerodermia, sendo um importante achado para o seu diagnóstico precoce.
O que leva uma pessoa a ter doença autoimune?
As causas exatas de uma doença autoimune ainda são obscuras. Mas sabe-se que o problema está relacionado a fatores genéticos, por isso quem tem familiares com uma doença deste tipo está mais suscetível a desenvolver o problema.
Entretanto, fatores ambientais também podem desencadear uma resposta imunológica descontrolada, como contato com alguns micro-organismos, radiação solar e medicamentos. Além disso, o estresse e o mau funcionamento das células do tipo B são outros fatores estudados.
Tratamentos
Este tipo de doença autoimune não tem cura, mas os tratamentos impedem o agravamento dos sintomas e podem fazer com que entrem em remissão por um período. A abordagem vai depender do tipo de doença e dos sintomas apresentados, já que é comum tratar diretamente as queixas do paciente.
Por exemplo, no caso da artrite reumatoide é usual que o médico receite anti-inflamatórios e analgésicos para aliviar o desconforto, além de sessões de fisioterapia que visam fortalecer a área da articulação e aumentar a sua mobilidade. Em casos mais graves, até mesmo a cirurgia é considerada.
Além disso, os especialistas podem receitar imunossupressores, que são medicamentos que regulam a ação do sistema imunológico, fazendo com que a doença autoimune entre em remissão.
Mudanças no estilo de vida como tratamento de doença autoimune
Alterações no estilo de vida podem melhorar o prognóstico de uma doença autoimune, além de serem capazes de prevenir algumas doenças reumáticas. Sendo assim, o paciente diagnosticado deve tomar determinados cuidados no seu dia a dia, como:
- Alimentar-se de forma mais saudável, evitando produtos processados;
- Evitar o sobrepeso;
- Praticar atividades físicas regulares;
- Evitar movimentos repetitivos e sempre manter uma postura correta;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo;
- Manter o estresse sob controle;
- Criar uma rotina bem definida, separando tempo para momentos de descontração.
O que leva o sistema imune a desencadear uma doença reumática?
Ainda não se sabe com exatidão o que desencadeia o desequilíbrio do sistema imunológico em doenças desse tipo. No entanto, fatores genéticos costumam ser determinantes para o problema; por isso, é fundamental que o paciente conheça seu histórico familiar.
Além disso, existem alguns comportamentos e situações que criam fatores de risco para essas enfermidades, como tabagismo, obesidade, depressão, uso de alguns medicamentos, ansiedade e estresse.
Por fim, até mesmo alguns tipos de infecções podem funcionar como gatilho para a manifestação de doenças quando já existe uma predisposição genética.
Em que grupo a doença autoimune é mais frequente?
A doença autoimune ocorre com mais frequência em mulheres, sobretudo entre os 30 e os 40 anos. Alguns dos quadros mais comuns são lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e osteoporose. Entretanto, também há determinadas enfermidades reumatológicas e autoimunes cuja prevalência é maior em homens, como gota e espondilite anquilosante.
Independentemente do sexo, é fundamental ficar atento aos sintomas e buscar tratamento precocemente.