Diferentes partes do corpo podem ser acometidas por uma doença autoimune. Estima-se que este tipo de enfermidade atinja 8% da população mundial e algumas delas são de ordem reumatológica.
Isso quer dizer que elas atingem o sistema musculoesquelético, podendo causar sintomas nos ossos, articulações, cartilagens, ligamentos, tendões e músculos. Neste texto, exploramos o desenvolvimento deste tipo de doença, seus principais tipos e possibilidades de tratamento. Acompanhe!
O que significa ter uma doença autoimune?
Quando uma pessoa sofre de uma doença autoimune, isso significa que o seu organismo desenvolve anticorpos que atacam células saudáveis do corpo, pois as reconhece como invasores. Dessa forma, o paciente passa a sofrer diversos sintomas relacionados aos tecidos atingidos.
![Manifestação de doença autoimune - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2023/11/26321_Blog_Marcelo_autoimune_2_original.jpg)
Como se manifesta uma doença autoimune?
A forma como uma doença autoimune se manifesta vai variar conforme o tipo de problema. Entretanto, existem alguns sintomas comuns em quase todas as suas variações, como:
- Dor nas articulações;
- Cansaço;
- Mal-estar;
- Anemia;
- Perda de peso;
- Sensação de fraqueza;
- Diarreia e outros problemas abdominais;
- Manchas pelo corpo.
Impactos psicológicos em pacientes com doença autoimune
Um estudo realizado pela Universidade de Cambridge e King’s College London mostrou que inúmeros pacientes com doença autoimune lutam também contra problemas psíquicos.
A pesquisa contou com a participação de 1853 pacientes e foi publicada na revista Rheumatology. Os principais dados obtidos foram:
- 89% dos pacientes sofrem de fadiga;
- 70% tem algum tipo de disfunção cognitiva;
- 57% sofrem de ansiedade;
- 55% sofrem de depressão.
Esses números mostraram-se maiores do que os próprios médicos esperavam e a explicação para os resultados pode estar em dois fatores. O primeiro é que no modelo tradicional de medicina é muito comum que os médicos foquem nos sintomas e na doença em si, sem levar em consideração o paciente como um todo. Ou seja, durante o tratamento não é considerado os hábitos, as questões emocionais, como a doença autoimune afeta a autoestima e o psicológico do paciente.
O segundo ponto é que os próprios pacientes não são encorajados a falar sobre suas emoções e muitos sentem vergonha de expor seus sentimentos.
Entretanto, essa situação pode ser melhorada por uma relação mais próxima entre médico e paciente, valorizando uma abordagem mais humanizada e integrativa. Assim, será mais fácil identificar a necessidade de encaminhar a pessoa para um tratamento mais amplo, com a participação de psicólogos e psiquiatras.
![Mão de idosa com doença autoimune - site Dr. Marcelo Jose Uchoa Correa, reumatologista em Belém - Pará](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2024/12/Mao-de-idosa-com-doenca-autoimune.jpeg)
Principais tipos
Há diversas doenças reumáticas de origem autoimune e que necessitam de tratamento para controle dos sintomas. Elas podem ser diagnosticadas após uma consulta com o reumatologista.
Lúpus eritematoso sistêmico
Lúpus é uma doença que causa inflamações em diversas partes do corpo. Ela pode se manifestar de forma lenta e gradual ou se desenvolver completamente em semanas. O paciente passa por fases em que os sintomas estão totalmente ativos e outras em que há uma remissão.
A enfermidade é classificada em 2 tipos:
- Cutânea: se manifesta na pele e causa manchas;
- Sistêmica: atinge também os órgãos internos.
Os sintomas do lúpus incluem algumas manifestações comuns desse tipo de doença, como fraqueza e emagrecimento, mas também pode apresentar sinais específicos conforme os órgãos atingidos, como dor nas articulações, inflamação nos rins, alterações neuropsiquiátricas e inflamação das membranas que recobrem os pulmões.
O diagnóstico ocorre após uma análise dos sintomas, mas o reumatologista pode se embasar em alterações encontradas nos exames de sangue e urina. O problema se manifesta em qualquer sexo e em qualquer idade, mas é um pouco mais comum em mulheres entre os 20 e os 45 anos.
Síndrome Antifosfolípide também é uma doença autoimune
A síndrome antifosfolípide é uma doença autoimune que causa uma inflamação no sangue. Isso desencadeia casos de trombose e leva mulheres a sofrerem com diversas complicações na gravidez, como pressão alta e prematuridade do bebê, além de abortos repetitivos.
Quando o paciente sofre de trombose em uma das veias, é mais comum que o problema se manifeste nos membros inferiores, causando inchaço, dor e vermelhidão no local. Mas quando uma artéria é atingida, o sintoma principal é o acidente vascular cerebral.
O diagnóstico da doença depende da combinação de dois fatores: pelo menos uma manifestação clínica da doença e presença nos exames de sangue dos anticorpos antifosfolípides.
Além disso, a doença é classificada em 3 tipos:
- Primária: surge de forma independente, sem sinais de outras enfermidades autoimunes;
- Secundária: é marcada pela presença de outras enfermidades autoimunes, como o lúpus;
- Catastrófica: é uma manifestação rara da doença, em que ocorrem diversas tromboses que podem causar disfunção em vários órgãos.
Síndrome de Sjögren
A Síndrome de Sjögren é uma doença reumatológica em que anticorpos são produzidos para atacar células saudáveis nas glândulas lacrimais e salivares. Sendo assim, o principal sintoma é uma sensação de secura na região dos olhos e na boca, mas também podem surgir outros sinais:
- Secura no nariz, pele e vagina;
- Fadiga;
- Artrites;
- Acometimento de outros órgãos, como cérebro, fígado, pulmões e rins.
O diagnóstico costuma se iniciar em uma consulta com o oftalmologista, que, ao suspeitar de que se trata de um problema reumatológico, encaminha o paciente para o reumatologista. Este especialista irá avaliar os sintomas e procurar por alterações em exames de sangue, radiológicos e outros.
Assim como a síndrome antifosfolípide, a síndrome de Sjögren é classificada em primária e secundária.
Artrite reumatoide
A artrite reumatoide é um processo inflamatório crônico que atinge as articulações, causando dor, vermelhidão, rigidez e edemas. Embora possa se manifestar em qualquer parte do corpo, os sintomas são mais comuns nas mãos e punhos.
Essa doença autoimune provoca a destruição das cartilagens articulares, o que resulta em deformidades e limitações de movimentos. De forma menos comum, ela pode atingir outros órgãos, como rins, coração e pulmões.
A artrite reumatoide é duas vezes mais incidente em mulheres, com os primeiros sintomas apresentando-se entre os 30 e 40 anos e tornando-se mais comuns com o envelhecimento. Para confirmar o diagnóstico é fundamental que o paciente apresente pelo menos 4 das condições abaixo por um período de 6 semanas:
- Artrite nas mãos;
- Artrite em 3 áreas;
- Alterações radiográficas;
- Fator reumatoide no sangue;
- Nódulos reumatoides;
- Rigidez nas articulações durante a manhã;
- Artrite simétrica, ou seja, atingindo dois lados do corpo, como as duas mãos.
![Dores musculares decorrente de doença autoimune - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2023/11/28847_Blog_Marcelo_autoimune_2_original.jpg)
Miosite é uma doença autoimune que afeta a musculatura
A miosite é uma doença autoimune que afeta a musculatura de pessoas que possuem alguma suscetibilidade de ordem genética para o problema. Assim, os músculos sofrem alterações que levam à degeneração e à inflamação.
Os principais sintomas da enfermidade incluem fraqueza muscular, que dificulta a realização de alguns movimentos simples, sensibilidade e, em alguns casos, atrofia dos músculos das regiões pélvica e escapular.
Além disso, a doença pode atingir órgãos importantes e prejudicar seu funcionamento, como esôfago, faringe e coração. Por outro lado, os músculos das mãos, do rosto e dos pés costumam ser menos afetados.
A miosite é mais comum no sexo feminino, havendo o dobro de casos em mulheres quando comparado aos homens. Os dados dessa doença autoimune também mostram que ocorrem de 3 a 4 vezes mais casos em pessoas negras.
O diagnóstico da doença requer uma avaliação clínica e também a realização de uma biópsia muscular, usada para confirmar o quadro. Além disso, o exame é importante para estabelecer uma diferenciação entre os tipos da enfermidade. Ainda, realizam-se alguns exames laboratoriais em pacientes com miosite, permitindo, entre outras vantagens, avaliar a gravidade do quadro.
Apesar de não haver cura, a enfermidade é tratada pelos reumatologistas, que conseguem alcançar longos períodos de remissão, sobretudo quando o problema é acompanhado durante muitos anos. No entanto, isso não impede que os sintomas retornem a qualquer momento. Assim, o início precoce do tratamento é fundamental, já que a doença pode evoluir de forma rápida e agressiva, sobretudo em crianças.
Doença mista do tecido conjuntivo
A doença mista do tecido conjuntivo é uma síndrome de ocorrência rara que apresenta sinais de diversas doenças reumatológicas, como esclerose sistêmica, lúpus e polimiosite. Ela ocorre quando há a presença de um anticorpo específico, chamado de anti-U1-RNP.
A enfermidade é mais comum em mulheres e surge principalmente da adolescência até os 20 anos, mas pessoas de todas as raças e em qualquer parte do mundo podem sofrer dessa doença de origem desconhecida. Os principais sintomas, presentes em 75% dos pacientes com a doença, são:
- Fenômeno de Raynaud, em que há alterações na coloração dos dedos devido a uma contração excessiva dos vasos sanguíneos diante do frio, causando desconforto;
- Edemas nas mãos e ulcerações nas pontas dos dedos;
- Artrite, geralmente não deformante;
- Fraqueza muscular próximo às articulações afetadas;
- Comprometimento pulmonar, renal e até cardíaco em alguns casos.
Conforme as manifestações encontradas, o paciente pode ter um longo período de sobrevida e se ver livre dos sintomas por anos.
Policondrite recidivante também é uma doença autoimune
Essa rara doença autoimune é um tipo de inflamação das cartilagens na região da orelha e do nariz, mas que também pode atingir outras regiões do corpo, como olhos, rins, articulações, vasos sanguíneos e coração.
Os primeiros sintomas costumam ser dor aguda e edema na cartilagem da orelha, seguidos pela inflamação da cartilagem nasal e pelo desenvolvimento de artrite em várias articulações. Posteriormente, ocorre a inflamação de outras áreas do corpo.
Essa doença alterna entre fases de atividade e remissão, mas pode prejudicar severamente as áreas afetadas, causando sua degeneração. O número de casos é similar em ambos os sexos e o problema costuma surgir durante a meia-idade.
O diagnóstico ocorre após uma análise clínica do paciente, em que é esperado que ele apresente ao menos 3 dos seguintes sintomas:
- Disfunções auditivas;
- Condrite bilateral de orelha externa;
- Inflamação nos olhos;
- Condrite nasal;
- Artrite;
- Condrite no sistema respiratório.
Havendo suspeitas, a confirmação do diagnóstico pode ser feita por meio de uma biópsia.
Esclerodermia
A esclerodermia é uma doença marcada por alterações na pele que causam o seu endurecimento. Entretanto, órgãos internos e pequenos vasos sanguíneos também são afetados. Classifica-se o problema em localizado, quando se restringe a uma área da pele, e sistêmico, quando ataca a pele e outras estruturas.
Sendo muito mais comum em mulheres, a doença se manifesta principalmente na quarta década de vida e, assim como outras doenças autoimunes, suas causas são desconhecidas.
Quando o diagnóstico ocorre precocemente, há um melhor prognóstico, já que é possível controlar os sintomas e impedir seu avanço rápido. Nesse contexto, deve haver um cuidado especial com a versão sistêmica difusa, já que o comprometimento dos órgãos internos pode ocorrer em um período curto, geralmente inferior a 5 anos.
Durante a análise do reumatologista, ele irá procurar sinais do fenômeno de Raynaud, já que essa manifestação está presente em mais de 90% dos pacientes com esclerodermia, sendo um importante achado para o seu diagnóstico precoce.
Artrite psoriásica é uma doença autoimune
A artrite psoriásica é uma doença autoimune caracterizada por um tipo crônico de artrite que atinge pacientes com psoríase: uma doença que provoca lesões avermelhadas na pele, podendo se formar em diversas partes do corpo, mas que se desenvolve sobretudo nos joelhos, nos cotovelos e no couro cabeludo.
É mais comum que a psoríase apareça primeiro, seguida pelo quadro de artrite. Entretanto, há casos em que a artrite surge primeiro.
Além dos problemas de pele, essa é uma doença marcada por outros sintomas, como:
- Inflamação nos dedos dos pés e das mãos;
- Inflamação nos tendões, sobretudo o tendão de Aquiles e na sola do pé;
- Inflamação nas articulações da coluna, o que pode resultar em dores na lombar;
- Problemas nas unhas, como lesões, hemorragias e até a destruição completa da unha.
Essa é uma enfermidade autoimune e sem causas totalmente esclarecidas, mas alguns fatores de risco são conhecidos. Sabemos que a doença é mais comum entre os 30 e os 50 anos, com uma incidência maior em pessoas brancas. O histórico familiar da doença também aumenta as chances de ocorrência. Já em relação ao sexo, não há uma diferença significativa.
O diagnóstico é realizado pelo médico reumatologista. É necessário salientar que a junção entre articulações inflamadas e psoríase nem sempre indica artrite psoriásica. O especialista irá fazer uma investigação detalhada para confirmar o quadro. São analisados o histórico familiar, os sintomas e exames laboratoriais e de imagem.
Não existe um teste específico para comprovar a condição, contudo os exames são importantes para descartar outras doenças e observar a gravidade das lesões.
O tratamento muitas vezes ocorre de forma multidisciplinar, com a participação de um reumatologista e de um dermatologista.
![Fita laranja que simboliza o combate ao lúpus - site Dr. Marcelo Jose Uchoa Correa, reumatologista em Belém - Pará](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2024/12/Fita-laranja-que-simboliza-o-combate-ao-lupus.jpeg)
Esclerose múltipla é uma doença autoimune grave
A esclerose múltipla é uma doença autoimune grave e progressiva, em que o sistema imunológico passa a atacar os neurônios. Essas estruturas são fundamentais para o bom funcionamento do cérebro e, consequentemente, de todo o corpo.
Os neurônios perdem sua capacidade de transmitir informações. Um processo que é irreversível e resulta em uma série de sintomas:
- Fadiga;
- Fraqueza muscular;
- Alterações na visão;
- Formigamento nas mãos e pés;
- Falta de equilíbrio;
- Espasmos musculares;
- Tontura;
- Impotência sexual;
- Perda da capacidade cognitiva;
- Alterações na fala.
No início do quadro a doença pode ser silenciosa e geralmente alguns sintomas surgem e desaparecem sozinhos, o que retarda a ida do paciente ao médico. Por isso, sempre que perceber que algo está diferente em seu organismo, procure um especialista.
Essa enfermidade está ligada à predisposição genética, que em algum momento pode desencadear um desequilíbrio no sistema imunológico. Entretanto, existem alguns fatores de risco a serem considerados, sobretudo quando eles ocorrem na adolescência:
- Obesidade;
- Tabagismo;
- Ter passado por infecções severas;
- Exposição excessiva ao sol;
- Baixa de vitamina D;
- Ter contato frequente com solventes orgânicos.
Um aspecto importante é que a incidência da doença é maior em mulheres brancas oriundas de países de clima temperado. No Brasil há por volta de 40 mil casos confirmados.
O diagnóstico da condição exige uma análise minuciosa dos sintomas e histórico do paciente, além de exames de imagem, como a ressonância magnética, que pode mostrar o cérebro em detalhes. Também é realizado um exame do líquido que protege a medula espinhal.
Quando a esclerose múltipla é confirmada, o tratamento deve se iniciar imediatamente. Ainda não há cura para a doença, mas as opções atuais permitem que os sintomas sejam controlados, o que melhora a qualidade de vida do paciente e impede o avanço acelerado da condição.
Espondilite anquilosante é considerada uma doença autoimune
A espondilite anquilosante é uma doença autoimune inflamatória do tecido conjuntivo. Ela se apresenta, sobretudo, nas grandes articulações, como quadris, coluna e ombros. Os pacientes afetados relatam várias queixas:
- Dor nas nádegas costuma ser um dos primeiros sintomas, com um dos lados sendo mais afetado do que o outro. A dor pode se espalhar pela lombar e também chegar até a coxa;
- Dor na coluna que piora com o repouso e melhora durante os exercícios físicos;
- Rigidez matinal;
- Cansaço;
- Perda de apetite, o que em alguns casos leva a quadros de anemia;
- Dor no peito, que piora durante a respiração profunda. Isso é um indício de que a inflamação atingiu articulações entre as costelas e a coluna;
- Aumento da cifose;
- Em casos muito graves a doença pode se tornar sistêmica, afetando várias partes do corpo e causando perda de visão, déficit neurológico e insuficiência cardíaca
Diagnóstico, tratamento e possível causa da espondilite anquilosante
Ainda não foi possível determinar com exatidão as causas da espondilite anquilosante, mas os estudiosos já têm alguns indícios e teorias sobre como o problema ocorre. Foi comprovado que a ocorrência é 300 vezes maior em pessoas que herdam o marcador genético HLA-B27, relacionado aos glóbulos brancos.
Entretanto, a mera presença desse marcador não é o suficiente para desencadear a condição. É preciso haver algum tipo de gatilho nas pessoas geneticamente predispostas. Atualmente há uma teoria de que a doença se desenvolve a partir de uma infecção intestinal.
A doença tem maior incidência em homens e geralmente se inicia entre os 20 e os 40 anos. O diagnóstico leva em consideração radiografias da coluna, exames de sangue e ressonância magnética da pelve e da coluna.
O tratamento ocorre principalmente com o uso de anti-inflamatórios e a realização de exercícios com o objetivo de manter a amplitude dos movimentos. A doença tem um prognóstico promissor, com muitos pacientes conseguindo longos períodos de remissão dos sintomas.
![Mulher com manchas na pele causadas por doença autoimune - site Dr. Marcelo Jose Uchoa Correa, reumatologista em Belém - Pará](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2024/12/Mulher-com-manchas-na-pele-causadas-por-doenca-autoimune.jpeg)
Dermatomiosite é uma doença autoimune
Essa é uma doença autoimune que atinge a pele e também os músculos próximos ao centro do corpo. Os sintomas principais são:
- Pápulas de Gottron: são lesões ou elevações na pele, de aspecto firme, tamanho variável e cor arroxeada. Elas aparecem principalmente nas articulações entre os dedos das mãos e também onde os dedos se conectam com as mãos. Cotovelos e joelhos também podem ser atingidos. Essas lesões receberam esse nome devido ao médico Gottron, que foi o primeiro a descrevê-las;
- Sinal de Gottron: é um tipo de erupção cutânea com uma cor avermelhada, que atinge as mesmas áreas afetadas pelas pápulas de Gottron;
- Inchaço e manchas arroxeadas nas pálpebras;
- Fraqueza nos músculos proximais, o que dificulta uma série de movimentos rotineiros em que é preciso fazer força para cima, como pentear os cabelos, erguer algo, levantar-se e subir escadas;
- Problemas pulmonares, que somente ocorrem nos casos mais graves.
Um detalhe importante é que os sintomas podem piorar durante a exposição ao sol. Já em relação às causas não há uma confirmação, mas acredita-se que fatores genéticos, ambientais e imunológicos contribuam para o quadro.
É uma condição de diagnóstico complexo, já que seus sintomas são muitas vezes confundidos com outras enfermidades. Então, é necessária uma investigação completa, com exame clínico, exames de sangue, eletroneuromiografia e até biópsia dos músculos.
Devido à sua capacidade de prejudicar diversos sistemas do corpo, a dermatomiosite pode depender de uma equipe multidisciplinar para acompanhar o paciente, formada por reumatologistas, dermatologistas e neurologistas. O tratamento envolve medicamentos e fisioterapia.
Diferenças de manifestação em jovens e adultos
Há algumas diferenças entre a manifestação da dermatomiosite em jovens e adultos. Quando a condição se apresenta antes dos 18 anos, podem ocorrer complicações relacionadas ao crescimento e desenvolvimento. Por outro lado, pessoas mais jovens tendem a responder melhor ao tratamento. De qualquer forma, cada caso deve ser acompanhado individualmente.
Vasculite é uma doença autoimune dos vasos sanguíneos
Vasculite é um termo usado para se referir a uma doença autoimune que provoca inflamação dos vasos sanguíneos. Isso ocorre quando essas estruturas são atacadas por células do sistema imunológico, causando hemorragias, aneurismas e redução do fluxo sanguíneo.
Como os vasos sanguíneos são uma rede que interliga todo o corpo, as vasculites podem resultar em danos em qualquer sistema. Sendo assim, os sintomas podem ser extremamente variados.
A doença é classificada em primária e secundária. Nas manifestações primárias a condição desenvolve-se com foco nos vasos sanguíneos. É possível que se apresente em apenas um órgão ou tecido, como pele, olhos e sistema nervoso central. Mas há também as vasculites sistêmicas, em que vários órgãos são atingidos ao mesmo tempo. Alguns exemplos, então, desse tipo são a arterite de Takayasu e a arterite de células gigantes.
Já as vasculites secundárias são aquelas em que a inflamação surge associada a outras condições pré-existentes, como infecções, neoplasias e ao uso de algumas drogas.
Sintomas e diagnóstico de vasculite
Os sintomas gerais da doença, que costumam aparecer independentemente do tipo, são febre, cansaço e dor nas juntas.
O diagnóstico não é simples, já que se trata de uma condição menos frequente, o que faz com que haja outras suspeitas diante dos primeiros sintomas. Mas, havendo persistência das queixas do paciente, o reumatologista pode suspeitar de vasculite. O caminho para a confirmação inclui avaliação clínica e uma série de exames, como hemograma completo, painel metabólico completo, pesquisa de anticorpos, pesquisa de infecções, pesquisa de inflamação e exames de urina.
Além disso, a biópsia da região afetada pode finalmente confirmar as suspeitas. Por fim, alguns exames de imagem são importantes para determinar a gravidade do quadro.
O tratamento tem o objetivo de impedir a ação nociva do sistema imunológico nos vasos sanguíneos e irá variar conforme as causas da doença, gravidade e órgãos afetados.
O que leva uma pessoa a ter doença autoimune?
As causas exatas de uma doença autoimune ainda são obscuras. Mas sabe-se que o problema está relacionado a fatores genéticos, por isso quem tem familiares com uma doença deste tipo está mais suscetível a desenvolver o problema.
Entretanto, fatores ambientais também podem desencadear uma resposta imunológica descontrolada, como contato com alguns micro-organismos, radiação solar e medicamentos. Além disso, o estresse e o mau funcionamento das células do tipo B são outros fatores estudados.
![Tubo de ensaio com exame de sangue - site Dr. Marcelo Jose Uchoa Correa, reumatologista em Belém - Pará](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2024/12/Tubo-de-ensaio-com-exame-de-sangue.jpeg)
Avaliação laboratorial para o diagnóstico de doença autoimune
Os exames laboratoriais são de grande importância para o diagnóstico de qualquer doença autoimune. Pois essas condições deixam rastros que podem ser identificados em testes sorológicos. Então, além de uma análise física e do histórico, o médico deve buscar pela presença de anticorpos que possam comprovar a suspeita. De forma geral, os testes são divididos em dois.
Teste de FAN
Durante o exame, os anticorpos presentes no sangue têm uma reação contra componentes do núcleo das células, o que ocorre em diversas condições autoimunes. A ligação formada é, portanto, analisada em um microscópio em busca de padrões específicos de fluorescência.
O teste FAN tende a dar positivo diante de algumas doenças, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide, esclerodermia, síndrome de Sjögren e outras. Entretanto, ele não funciona como um teste definitivo, já que apenas aponta para uma atividade autoimune, sem a especificar.
Além disso, existem casos em que o teste dá positivo até mesmo em pessoas saudáveis. Então, cabe ao médico avaliar o paciente de forma mais ampla e realizar exames mais específicos que sejam capazes de confirmar a condição.
Teste de anticorpos específicos para doença autoimune
Como o nome sugere, o exame irá procurar por anticorpos específicos, que apontam para uma doença autoimune. Os anticorpos mais comuns investigados são:
- Anti-DNA de Cadeia Dupla: está associado ao lúpus eritematoso sistêmico; sobretudo nos casos mais graves;
- Anti-Sm: também está associado ao lúpus, sendo ainda mais específico para a doença, embora seja menos sensível. Geralmente ele é usado para reforçar um diagnóstico;
- Anti-Ro (SSA) e Anti-La (SSB): têm relação com sintomas típicos da síndrome de Sjögren, como secura na boca e nos olhos, mas também pode ser encontrado em pacientes com lúpus;
- Anti-CCP: é específico para artrite reumatoide e, quando seus índices estão elevados, indicam uma versão mais grave da doença;
- Anti-Histona: encontrado em pacientes que sofrem de lúpus induzido por medicamentos.
Tratamentos
Este tipo de doença autoimune não tem cura, mas os tratamentos impedem o agravamento dos sintomas e podem fazer com que entrem em remissão por um período. A abordagem vai depender do tipo de doença e dos sintomas apresentados, já que é comum tratar diretamente as queixas do paciente.
Por exemplo, no caso da artrite reumatoide é usual que o médico receite anti-inflamatórios e analgésicos para aliviar o desconforto, além de sessões de fisioterapia que visam fortalecer a área da articulação e aumentar a sua mobilidade. Em casos mais graves, até mesmo a cirurgia é considerada.
Além disso, os especialistas podem receitar imunossupressores, que são medicamentos que regulam a ação do sistema imunológico, fazendo com que a doença autoimune entre em remissão.
Mudanças no estilo de vida como tratamento de doença autoimune
Alterações no estilo de vida podem melhorar o prognóstico de uma doença autoimune, além de serem capazes de prevenir algumas doenças reumáticas. Sendo assim, o paciente diagnosticado deve tomar determinados cuidados no seu dia a dia, como:
- Alimentar-se de forma mais saudável, evitando produtos processados;
- Evitar o sobrepeso;
- Praticar atividades físicas regularmente;
- Evitar movimentos repetitivos e sempre manter uma postura correta;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo;
- Manter o estresse sob controle;
- Criar uma rotina bem definida, separando tempo para momentos de descontração.
![Lupus - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA](https://marceloreumatologista.com.br/wp-content/uploads/2023/11/28848_Blog_Marcelo_autoimune_1_original.jpg)
O que leva o sistema imune a desencadear uma doença reumática?
Ainda não se sabe com exatidão o que desencadeia o desequilíbrio do sistema imunológico em doenças desse tipo. No entanto, fatores genéticos costumam ser determinantes para o problema; por isso, é fundamental que o paciente conheça seu histórico familiar.
Além disso, existem alguns comportamentos e situações que criam fatores de risco para essas enfermidades, como tabagismo, obesidade, depressão, uso de alguns medicamentos, ansiedade e estresse.
Por fim, até mesmo alguns tipos de infecções podem funcionar como gatilho para a manifestação de doenças quando já existe uma predisposição genética.
Em que grupo a doença autoimune é mais frequente?
A doença autoimune ocorre com mais frequência em mulheres, sobretudo entre os 30 e os 40 anos. Alguns dos quadros mais comuns são lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e osteoporose. Entretanto, também há determinadas enfermidades reumatológicas e autoimunes cuja prevalência é maior em homens, como gota e espondilite anquilosante.
Todavia, independentemente do sexo, é fundamental ficar atento aos sintomas e buscar tratamento precocemente.