A gota é uma condição reumatológica que se desenvolve geralmente em homens de meia idade ou mulheres após a menopausa. Essa é uma condição crônica e bastante dolorosa que leva ao afastamento do trabalho, perda de independência e de mobilidade quando não tratada.
Quer entender os fatores de risco, seus principais sinais, diagnóstico e tratamento? Continue a leitura para saber tudo sobre a doença e algumas curiosidades explicadas por um reumatologista.
O que é gota?
A gota faz parte do grupo de doenças reumatológicas da mesma forma que a artrite reumatóide, esclerose sistêmica e fibromialgia. A condição ocorre quando, por algum motivo, existe acúmulo de cristais de ácido úrico nas articulações. Isso gera inflamação e a consequente dor que percebemos em casos agudos.
Em pacientes saudáveis o ácido úrico presente no sangue é eliminado pela urina e suor. No entanto, pacientes com essa condição reumática apresentam níveis elevados da substância, fazendo com que o corpo crie depósitos dela ao redor das articulações.
As extremidades, como os pés, são especialmente afetados. No entanto, nem todos que possuem taxas de ácido úrico elevada possuem ou chegam a desenvolver a doença. Por isso, somente exames de sangue não são o suficiente para o diagnóstico, mas falaremos mais a respeito ao longo do artigo.
Quais os principais sintomas da gota?
A gota pode ser assintomática por meses ou até anos, com depósitos de ácido úrico nas articulações. No entanto, quando ocorre uma crise de artrite inflamatória, a dor intensa se torna o principal sintoma.
Outros sinais incluem:
Vermelhidão: a articulação afetada fica visivelmente avermelhada devido à inflamação e aumento do fluxo sanguíneo. A cor vermelha é um sinal de crise aguda e é acompanhada de sensação de calor, tornando a área mais desconfortável;
Perda de mobilidade e rigidez: a inflamação causada pela gota provoca rigidez dolorosa, dificultando movimentos simples, como caminhar ou dobrar os dedos. Em casos graves, o movimento pode ser quase impossível sem dor;
Inchaço: a articulação afetada pode inchar devido à inflamação. O inchaço pode ser significativo e pressionar os tecidos ao redor, o que gera desconforto e, em alguns casos, a articulação pode parecer deformada;
Calor na articulação inflamada: a sensação de calor intenso é comum na articulação afetada, indicando que a inflamação está ativa. Esse calor agrava a dor, tornando difícil suportar qualquer pressão ou movimento;
Sensibilidade a toques leves: a área inflamada torna-se extremamente sensível, e até um toque suave pode causar dor intensa. Isso pode ocorrer ao calçar sapatos apertados ou ao tocar acidentalmente a área afetada.
A doença pode afetar qualquer articulação, mas é mais comum no dedão do pé. Outros locais de dor incluem joelhos, cotovelos, pulsos, tornozelos e dedos. Após a crise, a dor diminui, mas o desconforto pode persistir por dias ou semanas. Em ataques subsequentes, a dor tende a ser mais intensa e duradoura, por isso o tratamento da doença é fundamental.vem ser ainda mais intensos e duradouros, por isso o tratamento é tão importante.

Grupo de risco para desenvolver gota
A gota é muito mais comum em homens que mulheres, sendo que a idade também é fator de risco importante. Boa parte dos casos acontece depois dos 50 anos de idade, mas algumas pessoas chegam a desenvolver a doença quando jovens. Nesses casos raros ela se manifesta em suas formas mais graves e incapacitantes.
Outros fatores de risco incluem:
- Dieta: comer carne vermelha e crustáceos em excesso, assim como bebidas alcoólicas ou adoçadas com frutose;
- Peso: obesos produzem mais ácido úrico, o qual seus rins têm dificuldades para filtrar e retirar do sangue;
- Outras doenças crônicas: hipertensão arterial; diabetes; obesidade; síndrome metabólica; problemas cardíacos e dos rins;
- Uso de medicações de uso contínuo: incluindo doses baixas de aspirina, medicamentos para hipertensão, medicamentos anti-rejeição usados após transplantes de órgãos;
- Histórico familiar de gota;
- Cirurgia ou trauma recente.
Vale reforçar que esses são fatores de risco. Um fator isolado não determina se um paciente deve desenvolver gota ou não, mas sim uma combinação de riscos, fatores genéticos e ambientais.
O que leva a pessoa a ter gota?
A gota ocorre por causa do excesso de ácido úrico, algo que está relacionado ao próprio metabolismo do organismo. Esse ácido surge no corpo ao metabolizar substâncias chamadas de purinas, que estão presentes em certos alimentos, como carnes vermelhas e crustáceos.
Em geral, ter uma dieta rica em purinas não é um problema, já que os rins estão preparados para filtrar o ácido úrico e eliminá-lo. No entanto, algumas pessoas sofrem com problemas de filtragem nos rins combinados ao excesso de ácido.
Conforme essa substância circula no organismo ela se acumula em pequenos cristais com forma de agulhas ao redor de articulações. Mas o mecanismo que leva a esse acúmulo ainda não é bem conhecido, já que muitas pessoas com excesso de ácido úrico no sangue nunca chegam a desenvolver a gota.

Qual o primeiro sinal da gota?
O primeiro sinal clássico da gota é uma dor súbita e intensa em uma articulação, geralmente durante a noite. O dedão do pé é o local mais comum da primeira crise, mas outras articulações, como tornozelos, joelhos, punhos e até cotovelos, também podem ser afetadas. Essa dor surge de forma inesperada, muitas vezes sem aviso prévio, e pode ser incapacitante.
Além da dor extrema, a articulação inflamada costuma apresentar inchaço, calor e vermelhidão intensa, tornando-se muito sensível ao toque. Em alguns casos, a sensibilidade é tão grande que até o simples contato com um lençol pode ser insuportável. Esse desconforto atinge seu pico nas primeiras 24 horas, podendo durar de alguns dias a semanas, dependendo da gravidade do quadro e da resposta ao tratamento. Mesmo após a melhora da dor, a articulação pode continuar sensível por um período prolongado.
Muitos fatores podem desencadear a primeira crise de gota, incluindo o consumo excessivo de alimentos ricos em purinas. Além disso, desidratação, estresse, uso de certos medicamentos e condições pré-existentes, como hipertensão e obesidade, podem aumentar o risco.
É importante reconhecer os primeiros sinais da gota para buscar um diagnóstico rápido e iniciar o tratamento adequado. Sem controle, as crises podem se tornar mais frequentes e atingir outras articulações, levando a complicações a longo prazo, como a formação de tofos gotosos e danos permanentes nas articulações.
O que é bom para curar a gota?
A gota não tem cura definitiva, mas pode ser controlada de forma eficaz com mudanças no estilo de vida e tratamento médico. O uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), colchicina e corticoides ajudam a aliviar crises agudas. Para prevenção, medicamentos, como alopurinol e febuxostate, reduzem os níveis de ácido úrico no sangue.
Além dos remédios, a alimentação tem um papel essencial. Reduzir o consumo de carnes vermelhas, frutos do mar e bebidas alcoólicas diminui, por sua vez, os níveis de ácido úrico. Já a hidratação adequada facilita a eliminação da substância pelos rins. Atividades físicas também ajudam na regulação do metabolismo e no controle de peso, reduzindo o risco de crises frequentes.
Tratamentos complementares, como aplicação de gelo nas articulações inflamadas e fisioterapia, também podem ser úteis, especialmente em casos crônicos. O acompanhamento com um reumatologista é essencial para monitorar a evolução da doença e ajustar a terapia conforme necessário.
Veja mais detalhes de como evitar as crises da doença.
Como evitar crises de gota?
Para evitar novas crises e reduzir a progressão da gota, algumas mudanças no estilo de vida são fundamentais:
- Controlar os níveis de ácido úrico: o controle dos níveis de ácido úrico no sangue é crucial para o manejo da doença. Manter um acompanhamento médico regular, com exames periódicos, permite ajustar a medicação conforme necessário. O uso de medicamentos específicos para reduzir a produção de ácido úrico ou melhorar sua eliminação é fundamental para prevenir as crises. Além disso, o médico pode avaliar a eficácia do tratamento e a necessidade de ajustes para garantir que os níveis de ácido úrico permaneçam dentro dos parâmetros seguros;
- Manter um peso saudável: a obesidade está diretamente ligada ao aumento dos níveis de ácido úrico, além de ser um fator de risco para crises frequentes. A perda de peso ajuda a eliminar o ácido úrico de forma mais eficiente;
- Evitar alimentos ricos em purinas: carnes vermelhas, frutos do mar e bebidas adoçadas com frutose aumentam os níveis de ácido úrico no sangue, contribuindo para as crises de gota. Optar por proteínas com baixo teor de purinas pode ajudar a prevenir as crises.
Outras recomendações:
- Hidratar-se bem: a hidratação adequada é essencial para a eliminação do ácido úrico do corpo. Beber pelo menos 2 litros de água por dia ajuda a diluir o ácido úrico no sangue, facilitando sua excreção pelos rins e a eliminação pela urina. Além disso, a hidratação adequada também previne a formação de cristais nas articulações, que é a principal causa das crises. A ingestão de líquidos deve ser constante ao longo do dia, com destaque para a água e, se necessário, chás diuréticos que auxiliam na eliminação do ácido úrico;
- Praticar atividades físicas moderadas: a prática regular de atividades físicas moderadas não só melhora o metabolismo e ajuda a controlar o peso, como também reduz os riscos associados à doença. Exercícios, como caminhadas, natação, yoga e ciclismo, podem ser ótimas opções, pois aumentam a circulação sanguínea e promovem o bom funcionamento dos rins, facilitando a eliminação do ácido úrico. Além disso, o exercício ajuda a reduzir a inflamação, melhora a flexibilidade e diminui o estresse, fatores que também influenciam a intensidade das crises;
- Utilizar gelo nas crises: durante uma crise, a aplicação de gelo nas articulações inflamadas pode proporcionar alívio imediato. As compressas frias ajudam a reduzir a dor, adiminuir o inchaço e a aliviar a inflamação local. É recomendável aplicar o gelo por cerca de 15 a 20 minutos em intervalos de uma a duas horas, conforme necessário. Embora o gelo não trate a causa subjacente da doença, ele oferece um alívio temporário importante durante os episódios agudos.

Fatores que aumentam o risco de gota
A gota pode ser influenciada por diversos fatores, não se limitando apenas à alimentação. Entre os principais estão:
Fatores genéticos e condições de saúde
- Predisposição genética: ter histórico familiar da doença aumenta significativamente o risco de desenvolver a doença. Fatores hereditários podem afetar a capacidade do corpo de metabolizar e eliminar o ácido úrico de maneira eficiente;
- Doenças crônicas: condições como hipertensão, diabetes, obesidade e insuficiência renal interferem na eliminação do ácido úrico pelos rins, favorecendo seu acúmulo no organismo e aumentando as chances de crises;
- Uso de medicamentos: alguns medicamentos podem elevar os níveis de ácido úrico no sangue, dificultando sua excreção. Entre eles, estão: diuréticos tiazídicos; betabloqueadores e aspirina em doses baixas;
- Idade e sexo: homens têm maior risco de desenvolver a doença antes dos 50 anos, enquanto que, nas mulheres, a gota se torna mais comum após a menopausa, devido à diminuição dos níveis de estrogênio, que naturalmente favorecem a eliminação do ácido úrico;
- Cirurgias e traumas: procedimentos cirúrgicos ou traumas físicos podem desencadear crises. Isso ocorre porque essas situações alteram temporariamente os níveis de ácido úrico no organismo, podendo levar à liberação de cristais acumulados nas articulações.
Hábitos alimentares e estilo de vida
Além dos fatores genéticos e doenças crônicas, a alimentação e os hábitos diários desempenham um papel crucial no desenvolvimento da doença.
- Consumo excessivo de álcool: o álcool, especialmente a cerveja e bebidas destiladas, interfere na eliminação do ácido úrico pelos rins e pode estimular sua produção, favorecendo o acúmulo de cristais nas articulações;
- Sedentarismo e obesidade: o excesso de peso está diretamente relacionado ao aumento dos níveis de ácido úrico e à dificuldade do organismo em eliminá-lo. Além disso, a falta de atividade física contribui para o desenvolvimento de doenças metabólicas associadas à doença.
Diagnóstico com um reumatologista da Unimed
Ao visitar um reumatologista da Unimed ou de outro plano de saúde pela primeira vez o paciente terá de responder diversas perguntas sobre seu histórico familiar e médico. Durante essa conversa surge a suspeita sobre um quadro de gota, mas ainda não é possível comprovar isso.
O que se segue são sequências de exames que ajudam a comprovar o acúmulo de ácido úrico ao redor das articulações. Exames isolados dificilmente conseguem comprovar o problema, somente a análise cuidadosa do especialista pode confirmar se o paciente realmente possui essa doença reumatológica.
Exames laboratoriais
Existem alguns exames de laboratório que ajudam no diagnóstico. Os exames de sangue, por exemplo, permitem identificar o excesso de ácido úrico que deve causar a condição. No entanto, esses resultados podem ser enganosos já que alguns pacientes com gota não apresentam alterações no teste inicialmente e outros sem a doença apresentam altos níveis do ácido.
Para complementar, o especialista pode requisitar exames de ácido úrico na urina e testes do fluido articular. Neste último, o próprio médico é capaz de usar uma agulha no local doloroso para retirar o líquido. Quando colocamos o fluido sob o microscópio é possível ver os cristais que geram dor.
Exames de imagem
Nem sempre as dores de pacientes que visitam o reumatologista ocorrem por esse tipo de doença. Os exames de raio-X, entre outros, ajudam a eliminar outras possibilidades do problema.
Alguns exames permitem, inclusive, visualizar os depósitos de ácido úrico ao redor das articulações. Esse é o caso do ultrassom.
Tratamento da doença
O tratamento de gota é conservador, ou seja, não precisa de cirurgia inicialmente. Ele combina dois tipos de medicações: uma para controlar a inflamação e outra para prevenir complicações ao diminuir os níveis de ácido úrico no sangue.

Controle da inflamação e da dor
Durante uma crise, é fundamental o uso de medicamentos anti-inflamatórios, como os AINEs, colchicina ou corticosteroides, que ajudam a reduzir a dor e o inchaço nas articulações. O tratamento contínuo também inclui o uso de medicamentos específicos que controlam a formação de cristais e evitam o agravamento da condição ao longo do tempo.
Acompanhamento médico e mudanças no estilo de vida
Por ser uma condição crônica, requer acompanhamento médico regular, com ajustes nos tratamentos para garantir sua eficácia. Consultas frequentes com o reumatologista são essenciais para monitorar o progresso e realizar as modificações necessárias. Além disso, mudanças no estilo de vida desempenham um papel importante no controle da doença.
A perda de peso, a adoção de uma dieta equilibrada e a limitação do consumo de álcool são fundamentais para a prevenção de novas crises. Ademais, evitar alimentos com alto teor de substâncias que sobrecarregam o organismo também contribui para o bem-estar geral e diminui a frequência das crises.
O que acontece se eu não tratar a gota
Se a gota não for tratada, as crises tornam-se mais frequentes e intensas, podendo afetar seriamente a qualidade de vida. Inicialmente, a dor pode ser esporádica, mas, com o tempo, os episódios se tornam mais prolongados e debilitantes, dificultando atividades cotidianas, como caminhar ou até mesmo segurar objetos.
Além disso, a inflamação crônica nas articulações pode levar à deformidades, perda de função e rigidez, comprometendo a mobilidade. Em estágios avançados, as articulações podem sofrer danos irreversíveis, o que pode exigir tratamentos cirúrgicos.
A doença não tratada também pode ter impacto em outros órgãos. Por exemplo, a inflamação contínua pode afetar os tendões e até órgãos internos, prejudicando a função normal do corpo. A condição pode ainda aumentar o risco de osteoartrite precoce, devido ao desgaste excessivo das articulações.
Em termos de saúde geral, os pacientes com gota não controlada apresentam uma maior predisposição para problemas cardiovasculares, como hipertensão e doenças cardíacas, já que o ácido úrico elevado está associado a esses problemas. Além disso, a condição pode agravar outras condições existentes, tornando o tratamento mais complexo.
Complicações da gota
A progressão da gota pode causar diversas complicações que afetam a qualidade de vida do paciente, limitando suas capacidades físicas e bem-estar geral. As principais incluem:
Artrite gotosa crônica: a inflamação persistente nas articulações pode levar a danos irreversíveis, causando deformidades visíveis e perda de função, dificultando movimentos básicos e interferindo nas atividades diárias, impactando a vida profissional e social do paciente.
Comprometimento renal: além dos cálculos renais, a doença pode prejudicar a função renal de maneira geral. O acúmulo de substâncias no sistema renal pode reduzir sua capacidade de filtragem, aumentando o risco de insuficiência renal crônica e agravando complicações ao longo do tempo.
Doenças cardiovasculares: pacientes com gota não tratada apresentam maior risco de hipertensão, infarto e AVC. O ácido úrico elevado contribui para o desenvolvimento de problemas cardíacos, piorando a saúde cardiovascular e aumentando as chances de complicações graves.
Infecções secundárias: a inflamação crônica nas articulações enfraquece as defesas do corpo, tornando os pacientes mais vulneráveis a infecções bacterianas. Em casos graves e não tratados adequadamente, essas infecções podem agravar ainda mais a condição, resultando em sérios danos.
Osteoartrite precoce: a gota não controlada pode aumentar o risco de osteoartrite, especialmente nas articulações mais afetadas. O desgaste excessivo causado pelos cristais de ácido úrico pode levar à degeneração precoce da cartilagem, prejudicando a mobilidade e causando dores crônicas.
Controlar a gota é essencial para evitar essas complicações graves. A adesão ao tratamento, acompanhamento médico regular e um estilo de vida saudável, com hábitos alimentares e de exercício adequados, são fundamentais para prevenir danos irreversíveis e garantir uma melhor qualidade de vida a longo prazo.





