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Fibromialgia e seus sintomas: entenda mais sobre a doença e o tratamento

mulher tocando no pescoço com fibromialgia - site Dr. Marcelo Corrêa

Desde que Lady Gaga e outros famosos assumiram serem portadores de fibromialgia, o público começou a prestar mais atenção à doença. Mesmo assim, o problema continua sendo bastante desconhecido. A doença afeta cerca de 5% da população mundial e pode ser bastante debilitante. 

Quer entender mais sobre o que é essa síndrome, se tem cura e qual o seu tratamento? Tiramos todas as dúvidas mais comuns no guia abaixo. 

O que é fibromialgia?

A fibromialgia é crônica, mas de diagnóstico difícil por sua natureza multifatorial. A principal característica da síndrome é a dor inespecífica e sem causa aparente em diversas partes do corpo. Pesquisadores ainda não sabem o que exatamente leva ao problema. No entanto, imagina-se que existem alterações no organismo que amplificam as sensações dolorosas. 

Em geral, pacientes começam a perceber os sintomas após um evento catalisador, como: 

  • Trauma; 
  • Cirurgia;
  • Infecções;
  • Estresse psicológico. 

Ainda não existe cura para a doença. Além de aprender a conviver com o problema e evitar seus gatilhos, o paciente pode recorrer a alguns medicamentos que ajudam a diminuir a dor. Algumas mudanças no estilo de vida também contribuem para bons resultados no tratamento, algo que falaremos mais à frente. 

Fibromialgia é considerada reumatismo?

Hoje em dia a fibromialgia é uma condição agregada ao guarda-chuva dos reumatismos. Ela está no mesmo conjunto que doenças, como osteoartrites, artrite reumatoide e lúpus eritematoso. 

Apesar de não possuir manifestações que causem dano de fato a estruturas do organismo, a síndrome é considerada uma doença reumática por afetar músculos, tendões e ligamentos de forma generalizada. 

Pacientes precisam estar cientes que a doença não gera qualquer tipo de deformidade, mas isso não a torna menos grave. Seus sintomas prejudicam radicalmente a socialização, vida profissional e autoestima do indivíduo e exigem tratamento especializado.

Principais sintomas da fibromialgia

Muitos descrevem a fibromialgia como uma dor por todo o corpo que dura meses. Ela pode ocorrer em ambos os lados do corpo, acima ou abaixo da cintura e raramente está relacionada a uma articulação específica. 

Também existem sinais secundários relacionados à dor, como distúrbios do sono e fadiga. Pacientes diagnosticados com fibromialgia acordam cansados mesmo depois de dormir a noite inteira. Outros acordam no meio da noite por causa da dor, impedindo que tenham um sono reparador. 

Ainda existe um sintoma bastante comum: dificuldades cognitivas. Indivíduos relatam ter dificuldades para pensar com clareza, tomar decisões e problemas de memória.

ilustração de pessoa com pontos de dor com fibromialgia

Condições relacionadas

Um dos motivos que tornam essa síndrome tão difícil de diagnosticar e tratar é sua coexistência com outras condições. Frequentemente, médicos realizam o diagnóstico das doenças relacionadas à fibromialgia, mas ela permanece sem ser descoberta por meses ou até anos. Confira algumas das condições mais comuns encontradas nesses pacientes.

Enxaqueca

As dores de cabeça sem causa aparente e com intensidade variável chamadas de “enxaqueca” são bastante comuns em pacientes fibromiálgicos. Estudos mostram que 35% deles apresentam o problema, sendo que 67% já possuíam dores de cabeça antes do diagnóstico reumático. 

Em 11% o diagnóstico da enxaqueca ocorreu no mesmo ano que a fibromialgia e em 22% ocorreu um ano após identificar a doença reumática. Mesmo assim, ainda não existem evidências de que o problema agrave a dor generalizada causada pela fibromialgia. 

Depressão

46% dos pacientes com fibromialgia foram diagnosticados com depressão, de acordo com estudos. A tendência é que o problema seja mais comum em indivíduos que possuam a condição a longo prazo, considerando os efeitos que a dor inespecífica causa na vida e autoestima do indivíduo. Quem não passa por tratamento adequado pode ter uma piora no quadro depressivo ao perder parte de sua independência e capacidade de formar vínculos sociais. 

Ansiedade

Assim como ocorre na depressão, os sintomas de ansiedade mostram-se mais severos e prevalentes em pacientes com dor a longo prazo. Por isso, o diagnóstico e tratamento da fibromialgia é tão importante. Pacientes precisam ser atendidos por uma equipe multidisciplinar para garantir que condições coexistentes, como a ansiedade, também recebam a devida atenção médica.

Fatores de risco para fibromialgia 

Existem três fatores de risco bastante importantes para a fibromialgia: 

  • Gênero: as mulheres são mais afetadas, apesar de ainda não se conhecer o motivo para essa disparidade entre os diagnósticos;
  • Histórico familiar: a doença não é considerada hereditária, mas pacientes que possuem histórico de fibromialgia em parentes próximos, como pais ou irmãos, têm maiores chances de serem diagnosticados com o mesmo problema; 
  • Outras doenças reumáticas: outras doenças remáticas, como osteoartrite, artrite reumatóide e lúpus não são causadoras de fibromialgia, mas aumentam a chance do diagnóstico. 

Como ocorre o diagnóstico com um reumatologista

O diagnóstico é basicamente clínico, considerando o histórico de sintomas do paciente. O médico avalia os pontos dolorosos no corpo, verificando se existe sensibilidade à pressão e questiona quanto à duração do problema. Também é importante que o paciente relate dificuldades relacionadas, como distúrbios do sono e confusão mental. 

Não existem testes para confirmar a existência da síndrome, já que ela não gera alterações em exames laboratoriais ou de imagem. No entanto, o reumatologista pode exigir alguns procedimentos para descartar outras possibilidades antes de certificar-se da síndrome. 

Algumas condições, como osteoartrite e lúpus, podem ter sintomas bastante similares à fibromialgia. Por isso, confie em seu médico e tenha calma durante o diagnóstico. Com os exames corretos é possível eliminar todas as outras possibilidades para iniciar o tratamento. 

Tratamento da doença 

O tratamento envolve duas etapas: medicações e autocuidado. O objetivo é sempre aliviar ao máximo a dor e conquistar maior qualidade de vida e independência para o indivíduo. Para isso, o especialista pode prescrever analgésicos, no entanto, eles não são recomendados para uso contínuo. Esses remédios causam dependência e seus efeitos colaterais podem até agravar o quadro.

Os antidepressivos também têm sido bastante adotados. Além de auxiliar em sintomas secundários da doença, eles colaboram para pacientes com síndromes do sono e ajudam a diminuir quadros dolorosos, quando combinados com relaxantes musculares. 

Outra opção são medicamentos anti-espasmódicos, os mesmos usados para tratar epilepsia. Estudos têm mostrados que tais remédios são eficientes para aliviar e prevenir certos tipos de dores, incluindo a enxaqueca. 

A escolha do medicamento é um processo individual. O reumatologista deve avaliar os prós e contras de cada droga e o estado geral de saúde dos pacientes antes de prescrever algo. Além disso, o indivíduo precisará de acompanhamento de rotina para avaliar se os resultados estão realmente sendo melhores que os efeitos colaterais.

ilustração de corpo com pontos de dor por fibromialgia

Como a depressão piora os sintomas de fibromialgia

Fibromialgia e depressão estão intimamente ligadas! De acordo com a Associação Americana de Ansiedade e Depressão, cerca de 20% dos pacientes com dores crônicas apresenta distúrbios de humor, como a depressão. No caso da fibromialgia, isso se torna um ciclo vicioso. 

Por esse motivo, pacientes com a doença crônica têm muito mais chances do que adultos saudáveis de desenvolver depressão. Os sintomas prejudicam o estilo de vida do indivíduo, frequentemente impedindo que participem de atividades sociais e gerando frustrações constantes. 

Além disso, as dificuldades de diagnóstico e tratamento aumentam a sensação de tristeza e ansiedade do paciente. Esses sentimentos fazem com que a pessoa diminua sua prática de atividades físicas e desenvolva dificuldades para dormir, o que resulta em ainda mais dores pelo corpo e mais sentimentos de frustração, tristeza e ansiedade. 

Caso o ciclo continue, o paciente fibromiálgico terá muita dificuldade de prosseguir com seu tratamento de maneira adequada.

Tratamento de depressão em conjunto com fibromialgia

Portanto, é importante que indivíduos com fibromialgia procurem ajuda psicológica e reumatológica para conseguirem avançar no tratamento. Infelizmente, ainda não existem medicamentos capazes de tratar ambos os conjuntos de sintomas ao mesmo tempo. No entanto, algumas terapias podem gerar melhoras razoáveis no quadro. 

1. Medicamentos antidepressivos

É importante avisar: antidepressivos não possuem eficácia comprovada no tratamento de sintomas dolorosos da fibromialgia. No entanto, eles são prescritos em muitos casos por auxiliarem em outras manifestações da doença, como desequilíbrio emocional e dificuldades para dormir. Alguns medicamentos específicos também podem melhorar a dor de forma moderada, de acordo com algumas revisões da literatura sobre casos de fibromialgia. (https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10708)

Por isso, é possível que mesmo sem um diagnóstico de depressão o paciente receba esses medicamentos. Eles devem ser usados de acordo com a recomendação médica e sempre pelo período e nas doses recomendadas. 

Antes de interromper seu uso, é recomendado consultar novamente a equipe médica responsável pelo paciente.

2. Terapia cognitivo-comportamental

Por ser um tratamento bastante recomendado para depressão, a terapia cognitivo-comportamental também pode ser usada no quadro de fibromialgia. Além de trazer melhora significativa nos sintomas depressivos, a terapia também auxilia na mudança do padrão de comportamento, em como o paciente lida com a dor.

Ao conseguir compreender melhor seus sentimentos e emoções através da terapia, o indivíduo consegue mudar suas reações e agir de forma preventiva. O tratamento consegue efeitos duradouros que complementam o uso de fármacos para tratar depressão e fibromialgia. 

Ela também é recomendada para outras alterações psicológicas comuns nesses pacientes, como a ansiedade.

3. Psicoterapia

É outra abordagem psicológica usada para tratar primeiramente a depressão, mas que também traz resultados satisfatórios para todo o quadro fibromiálgico. O tratamento pode ocorrer em sessões em grupo, onde pacientes se encontram para dividir experiências, ou individuais. Tudo depende do quadro específico e da resposta do indivíduo. 

O processo busca auxiliar o paciente a entender-se além da doença e desenvolver estratégias para lidar com a dor e dificuldades. Dessa forma, ele consegue conquistar maior independência e qualidade de vida. O tratamento deve ser feito com psicólogos qualificados para trazer resultados reais para cada envolvido.

mulher com dor por fibromialgia

Dicas para conviver com a fibromialgia

Fibromialgia impõe um ciclo de dor e desconforto ao paciente que é difícil de quebrar. Mas com o tratamento adequado e algumas mudanças no estilo de vida, é possível ter uma vida normal e completa. Confira algumas dicas adicionais para quem foi diagnosticado com a condição, que podem ajudar a conviver com o quadro.

1. Mantenha acompanhamento com reumatologistas e equipe multidisciplinar

As visitas de rotina a reumatologistas, nutricionistas, psicológos, fisioterapeutas, entre outros são o centro de qualquer tratamento para pacientes fibromiálgicos. Durante os atendimentos, é possível avaliar sua evolução e identificar outros problemas que possam atrapalhar na recuperação do indivíduo. 

Por isso, as visitas precisam ser frequentes e o paciente nunca deve interromper o tratamento sem autorização médica. Estudos indicam que quase metade dos pacientes diagnosticados com a doença crônica deixam de tomar seus medicamentos ou de ir às consultas por frustração. 

O tratamento pode ser demorado, mas é eficaz, se seguido à risca. O mais recomendado é que o paciente mantenha um diário de sintomas e de sua rotina para que se lembre de tudo que precisa conversar com cada médico especialista durante a consulta. Envolver família e amigos também é uma forma de evitar o esquecimento e lidar com as frustrações diárias sem desistir.

2. Crie uma rotina de atividades físicas

Manter-se ativo é uma das melhores formas de lidar com o problema. É compreensível que quando a dor surge a única vontade é de ficar completamente parado. Mas saiba que movimentar-se ajuda a aliviar a fadiga e dores características da doença. 

Caminhadas e natação são especialmente recomendadas para quem lida com um quadro fibromiálgico. Lembrando que ninguém precisa começar correndo uma maratona! Conseguiu caminhar por 10 minutos por dia na semana? Já está ótimo e ajudará com os resultados do tratamento.

Pacientes devem procurar um profissional de educação física ou de fisioterapia para recomendar a progressão correta de exercícios. Assim, evitam sobrecarregar o corpo e sofrer com ainda mais dores.

3. Trate disfunções do sono 

Para sentir-se melhor, mais ativo e menos fadigado, todos precisam de uma boa noite de sono. Mas pacientes com fibromialgia sofrem com um dilema: geralmente os sintomas atrapalham na hora de dormir, gerando quadros de insônia em muitos. Alguns até possuem apneia do sono, uma disfunção que causa sono não reparador, mesmo depois de 8 horas na cama. 

Quem anda se sentindo muito cansado, irritado ou melancólico precisa procurar seu médico para diagnóstico de disfunções do sono. Além disso, vale a pena mudar os hábitos para ter uma rotina de sono saudável, tentando ir deitar e acordar sempre nos mesmos horários e evitando o excesso de telas até 2h antes de dormir.

4. Mantenha uma dieta saudável

A nutricionista responsável pelo paciente recomendará uma dieta saudável e com poucos alimentos processados ou excessivamente calóricos. Comer bem ajuda a diminuir a ansiedade e até a evitar alguns sintomas dolorosos. 

Ainda mais, evitar alimentos ricos em cafeína, como o café e refrigerantes, ajuda a melhorar a qualidade do sono. Isso é importantíssimo para pacientes fibromiálgicos.

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O Dr. Marcelo Corrêa é formado pela UFPA, com residência em Clínica Médica pela Universidade de Taubaté e em Reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina e Mestrado em Reumatologia pela mesma instituição. CRM/PA 6388. RQE 5441.

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