Enquanto você olha seu celular ou digita um dos vários e-mails diários, talvez esteja desenvolvendo uma condição dolorosa e bastante comum: a lesão por esforço repetitivo. O problema ocorre em profissionais de diversos setores, como trabalhadores de escritório, dentistas, operadores logísticos, entre outros.
Quer entender mais sobre a doença, seu diagnóstico e tratamentos? Continue lendo para entender tudo sobre um dos motivos mais comuns de afastamento do trabalho no Brasil!
O que é lesão por esforço repetitivo (LER)?
É comum que o paciente visite um médico quando sente dores no ombro, punhos ou até lombalgia e seja diagnosticado com LER (lesão por esforço repetitivo). Primeiramente, queremos avisar que o termo LER em si não é o diagnóstico de uma doença, mas um termo guarda-chuva que abriga diversos problemas que afetam o sistema músculo-esquelético.
Entre elas estão diversas condições tratadas pelo reumatologista que causam dores e incômodos sérios, como:
- Tendinites;
- Bursites;
- Epicondilite lateral;
- Síndrome do túnel do carpo;
- Lombalgia.
As doenças podem afetar diversas articulações, como tornozelos, punhos, coluna lombar, coluna cervical e até dedos. Por ser tão variadas, as LERs já são consideradas problema de saúde pública.
Prejuízos causados por casos de LER
De acordo com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, cerca de 39 mil pessoas foram afastadas do trabalho em 2019 por causa de LER ou DORT. Os principais motivos de afastamento são: sinovite, tenossinovite e mononeuropatias dos membros inferiores.
Além de causar prejuízos sérios para a vida pessoal do indivíduo, as lesões também geram prejuízo para toda a sociedade. Cerca de 11% dos pagamentos do INSS em 2017 foram referentes a afastamentos causados por esse tipo de lesão ou doença.
Além disso, as lesões por esforço repetitivo, quando não tratadas, podem gerar problemas crônicos. Muitos pacientes que tiveram um episódio de lombalgia, por exemplo, podem sofrer com o problema repetidas vezes no futuro e passar por novos afastamentos.
Lesão por esforço repetitivo vs. DORT
Atualmente outro termo está ganhando atenção, as DORT: distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Ele foi criado como um substituto para a sigla LER, já que inicialmente existia uma dúvida se pessoas poderiam desenvolver tais patologias sem ter relação com o trabalho.
Quando usamos o termo DORT, a quantidade de doenças fica ainda maiores, já que o termo inclui condições que:
Não possuem LESÃO propriamente dita – muitas vezes o que acontece é uma inflamação ou desgaste em tendões, ligamentos e nervos;
Passam por diversos tipos de sobrecarga: o esforço repetitivo é somente uma das sobrecargas que podem causar um quadro doloroso na articulação. Existem outras cargas em ambientes de trabalho que podem provocar doenças ao longo do tempo, como vibração contínua de equipamentos e postura inadequada.
No entanto, ainda existem controvérsias quanto à adoção do termo DORT. Boa parte dos profissionais da saúde optou por usar ambas as palavras para designar cada tipo de lesão.
Principais sintomas
Os sintomas são extremamente variados, já que dependem da articulação afetada. Em geral, o indivíduo sente dor no local lesionado, como membros superiores e dedos. A dor vem acompanhada com perda de mobilidade, fadiga muscular, alteração de temperatura local e outros sintomas de inflamação.
Em casos onde existe compressão de nervos, como ocorre na síndrome do túnel do carpo, o paciente também apresenta parestesias. Ou seja, ele apresenta perda de sensibilidade, formigamento, entre outros.
Geralmente, os sintomas só aparecem ou chamam a atenção quando o grau de lesão é avançado. Inicialmente, a pessoa talvez perceba uma dor leve nas mãos, dedos ou coluna e nunca chegue a procurar um especialista. Só vão ao consultório médico quando a dor pulsante ou latejante torna-se insuportável.
Fatores de risco para uma lesão por esforço repetitivo
Qualquer um pode desenvolver um quadro de LER ou DORT. No entanto, existem algumas profissões mais expostas a esse tipo de problema. Quem trabalha com digitação, costura, manuseio de equipamentos pesados e outras atividades com movimentos similares diários possui altas chances de ser diagnosticado com LER em algum ponto da vida.
A postura também é um grande fator de risco. Os trabalhadores de escritório são especialmente suscetíveis quando não utilizam equipamentos adequados. Cadeiras ergonômicas, mousepads adaptados, entre outros, ajudam a diminuir a incidência desses problemas no ambiente laboral.
Em ambientes onde é necessário carregar peso com frequência, colaboradores frequentemente desenvolvem LER ou DORT pela falta de máquinas para realização do trabalho. Empilhadeiras e elevadores ajudam na prevenção e garantem um ambiente mais seguro para todos.
Como ocorre o diagnóstico?
O diagnóstico é basicamente clínico. Ao chegar ao consultório, o paciente deve descrever detalhadamente os sintomas e também sua rotina e atividades laborais. O reumatologista precisa compreender quais movimentos podem estar por trás do quadro álgico e se existe histórico que comprove a possibilidade de lesão por esforço repetitivo.
Em casos de dor intensa, perda de mobilidade, formigamento e perda de sensibilidade, o médico pode exigir exames de imagem. Eles têm como objetivo avaliar a extensão do dano na articulação afetada. Os exames mais comuns incluem:
- Ultrassonografia;
- Raio-X;
- Ressonância magnética.
Em casos raros é necessário realizar exames laboratoriais para descartar a possibilidade de outros tipos de inflamação.
Prevenção de LER e DORT
Um dos fatores que influenciam na lesão por esforço repetitivo é a ergonomia, que é a ciência que estuda formas de tornar os equipamentos usados por humanos mais adaptados a sua biologia há décadas. Ela é a principal responsável por procurar soluções práticas para o dia a dia que ajudem a prevenir lesões, dores e patologias relacionadas ao trabalho.
O ideal é adaptar o espaço de trabalho para conseguir maior conforto e evitar sobrecarga articular. A coluna, por exemplo, é uma das mais afetadas pelo uso de cadeiras e computadores convencionais.
Também é importante evitar ficar várias horas na mesma posição. Empresas podem incluir intervalos curtos a cada duas horas para que colaboradores levantem-se e alonguem, ajudando a manter o corpo mais ativo e evitar dores.
Ao perceber qualquer tipo de incômodo, mesmo que pareça leve, procure um profissional da saúde. As LERs são problemas que se desenvolvem ao longo de anos e, quanto antes forem diagnosticadas, melhores serão os resultados do tratamento.
Tratamento de lesão por esforço repetitivo
A doença é multifatorial, portanto não existe um tratamento ou medicamento específico para LER. Após realizar o diagnóstico, será necessário realizar um trabalho conjunto entre ortopedista e reumatologista para aliviar a dor e tratar as consequências do movimento repetitivo.
Inicialmente, o médico pode receitar anti-inflamatórios para diminuir o quadro álgico. Depois, o paciente ainda precisará passar por sessões de fisioterapia para recuperar a mobilidade da região afetada. Conforme as dores diminuem, é possível retomar as atividades físicas, mas sempre com a devida orientação médica.
As cirurgias são raras nos casos da doença. Elas só precisam acontecer caso exista comprometimento grave de estruturas articulares. Do contrário, a opção de tratamento sempre é conservadora.