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Lúpus eritematoso sistêmico: o que é, sintomas e tratamento.

parte de rosto de mulher com lúpus eritematoso sistêmico - Dr Marcelo Corrêa Reumatologista

O lúpus eritematoso sistêmico ou, simplesmente, lúpus, como também é conhecido, é uma doença inflamatória crônica e autoimune capaz de afetar várias partes do corpo. 

A doença age fazendo com que as células de defesa ataquem as células saudáveis provocando processos inflamatórios e pode levar à morte caso não seja tratada corretamente ou em situações graves.

O que causa o lúpus eritematoso sistêmico?

A causa para o lúpus é desconhecida, porém sabe-se que fatores, como a genética, os hormônios e o ambiente fazem parte de seu desenvolvimento.

As pessoas que nascem suscetíveis ao desenvolvimento do lúpus passam a apresentar alterações imunológicas após uma interação com fatores:

  • Hormonais;
  • Infecciosos;
  • Genéticos;
  • Ambientais.

A principal alteração imunológica apresentada é o desequilíbrio na produção de anticorpos, que passam a reagir com proteínas do próprio organismo e causar inflamações em diversos órgãos, como pele, pulmões, rins, articulações, entre outros.

Pode-se, então, compreender que o tipo de sintoma desenvolvido pelo portador vai depender do tipo de autoanticorpo que a pessoa tem, assim como entende-se também que cada pessoa tende a ter sintomas de lúpus específicos e pessoais.

De acordo com a ciência há alguns gatilhos capazes de desencadear o lúpus, sendo eles:

  • Exposição à luz solar de maneira inadequada, que pode dar início ou agravar uma inflamação preexistente ao desenvolvimento da lúpus;
  • Ter uma infecção pode contribuir para o surgimento ou recaída da doença, podendo gerar quadros leves ou graves, dependendo de cada situação;
  • O lúpus também pode estar relacionado ao uso de determinados antibióticos, a medicamentos usados no controle de convulsões e de pressão alta.
bochechas de mulher com manchas de lúpus eritematoso sistêmico

Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas do lúpus são diversos, podendo surgir rapidamente ou se desenvolver de forma lenta, variando sua intensidade conforme a fase de atividade ou remissão da doença.

As manifestações clínicas mais freqüentes são:

  • Lesões de pele: ocorrem em cerca de 80% dos casos, ao longo da evolução da doença. As lesões mais características são manchas avermelhadas nas maçãs do rosto e dorso do nariz e que não deixam cicatriz.
  • As lesões discoides, que também ocorrem mais frequentemente em áreas expostas à luz, são bem delimitadas e podem deixar cicatrizes com atrofia e alterações na cor da pele. Na pele também pode ocorrer vasculite (inflamação de pequenos vasos), causando manchas vermelhas dolorosas em pontas dos dedos das mãos ou dos pés.
  • Há também a fotossensibilidade, que é o desenvolvimento de uma sensibilidade desproporcional à luz solar. Neste caso, com apenas um pouco de exposição ao sol, podem surgir manchas na pele e sintomas gerais (cansaço) ou febre.
  • A queda de cabelos é muito frequente, ocorrendo tipicamente nas fases de atividade da doença e, na maioria das pessoas, o cabelo volta a crescer normalmente com o tratamento;
  • Articulares: dores nas juntas, com ou sem inchaço, ocorrem em mais de 90% das pessoas com doenças reumáticas. As dores nas articulações das mãos, punhos, joelhos e pés tendem a ser intensas e ocorrem de forma intermitente, com períodos de melhora e piora.
  • A inflamação das membranas que recobrem o pulmão e coração são comuns e podem ser leves e assintomáticas ou se manifestar, como dor no peito. No caso do coração, a dor ocorre ao respirar, podendo causar tosse seca e falta de ar;
  • Inflamação nos rins: ocorre em cerca de 50% das pessoas com lúpus eritematoso sistêmico. No início pode não haver sintoma, apenas alterações nos exames de sangue e/ou urina. Nas condições mais graves a pessoa apresenta pressão alta, inchaço nas pernas, e a urina pode sofrer diminuição na quantidade, além de ficar espumosa. Quando não tratada rapidamente o rim deixa de funcionar (insuficiência renal) e o paciente pode precisar fazer diálise ou transplante renal.
  • Alterações neuro-psiquiátricas: essas manifestações são menos comuns, podendo causar convulsões, alterações de humor ou de comportamento, depressão e alterações dos nervos periféricos e da medula espinhal.
  • Sangue: as alterações nas células do sangue são devido aos anticorpos contra estas células, causando sua destruição.

Como saber se tenho lúpus eritematoso sistêmico?

O diagnóstico de lúpus não é tão simples pois os sintomas do lúpus podem variar muito de pessoa para pessoa além de mudar com o passar do tempo, podendo ser confundidos com sintomas de outras doenças.

Portanto, não há testes específicos capazes de diagnosticar a doença, porém há exames de sangue e urina que colaboram no diagnóstico, assim como os sintomas clínicos apresentados durante o exame físico.

Alguns exames úteis para diagnosticar o lúpus são:

  • Exame físico;
  • Exames de anticorpos, incluindo teste de anticorpos antinucleares;
  • Hemograma completo;
  • Radiografia do tórax;
  • Biópsia renal;
  • Exame de urina.

Como é feito o tratamento para lúpus?

O tratamento da doença é sintomático e busca controlar os sintomas, melhorando a qualidade de vida da pessoa, pois até o momento, lúpus não tem cura.

O tratamento deve ser indicado pelo médico, variando de acordo com cada caso, conforme os níveis de intensidade e agressividade da doença.

No caso da lúpus leve, alguns medicamentos indicados são:

  • Protetor solar para as lesões de pele;
  • Remédios anti-inflamatórios, que são usados quando o lúpus provoca sintomas como dor, inchaço ou febre;
  • Remédios antimaláricos, que ajudam a evitar o desenvolvimento dos sintomas de lúpus em alguns casos;
  • Remédios corticoides, que agem reduzindo a inflamação dos órgãos afetados;
  • Remédios imunossupressores, que são indicados para diminuir a ação do sistema imune e aliviar os sintomas. Porém esses medicamentos apresentam efeitos secundários sérios, como infecções recorrentes e aumento do risco de câncer. Portanto, só devem ser usados nos casos mais graves.

É importante salientar que os medicamentos usados na forma grave da doença também podem apresentar efeitos colaterais graves, sendo necessário o monitoramento frequente e constante com um médico especialista em reumatologia.

Quais cuidados devo tomar para aliviar os sintomas?

É de grande importância tomar alguns cuidados para aliviar os sintomas do lúpus eritematoso sistêmico, como o uso diário de protetor solar e a adoção de hábitos de vida bem mais saudáveis. Ter uma alimentação anti-inflamatória é fundamental na prevenção de aparecimento dos sintomas, podendo reduzir sua intensidade. O recomendado é aumentar o consumo de alimentos ricos em antioxidantes e ômega-3, como por exemplo:

  • Salmão;
  • Atum;
  • Chá verde; 
  • Alho;
  • Cebola; 
  • Brócolis; 
  • Abacate;
  • Tomate.

Ao apresentar sintomas parecidos com os da doença, procure ajuda médica para que haja o diagnóstico correto e seja iniciado o tratamento o mais rápido possível.

Efeitos do lúpus eritematoso sistêmico na vida de pacientes

Apesar do lúpus eritematoso sistêmico causar impactos a curto e longo prazo na vida dos pacientes, seus efeitos são mitigados com um diagnóstico rápido. Assim como ocorre com outras condições reumáticas, como artrite reumatoide e esclerose sistêmica, o lúpus é bastante limitante. Seus sintomas e complicações limitam a funcionalidade social, física e mental do indivíduo. 

Uma das complicações que mais gera dificuldades em pacientes diagnosticados com a condição é a fadiga. Isso prejudica a qualidade de vida, impedindo que o paciente consiga manter-se em um emprego regular ou ter uma vida social ativa. 

O sintoma permanece, mesmo durante o tratamento, mas o acompanhamento médico ajuda a garantir melhores níveis de atividade. Por isso, as consultas de rotina para avaliar sintomas e efeitos dos medicamentos usados são tão importantes. 

Tipos de lúpus

Sabia que o lúpus é classificado de acordo com seus sintomas, manifestações e partes do corpo atingidas? O diagnóstico correto de cada um dos tipos ajuda a manter um tratamento mais eficaz e levar melhor qualidade de vida ao paciente. Descubra quais são os quatro tipos da doença mais comuns. 

rosto de mulher com lúpus eritematoso sistêmico

1. Sistêmico 

O lúpus do tipo sistêmico ocorre quando a doença afeta diversos órgãos do organismo de forma aguda ou crônica. Por isso, seus sinais e sintomas são bastante variados, podendo incluir: 

  • Irritações na pele; 
  • Dor ou inchaço das articulações (artrites); 
  • Inchaço nos pés ou ao redor dos olhos, quando existem problemas renais envolvidos; 
  • Fadiga extrema; 
  • Febre baixa. 

A doença pode atingir uma série de órgãos ao mesmo tempo, causando: 

  • Inflamação dos rins: afeta a habilidade do corpo de filtrar o sangue. Em casos mais graves, o paciente pode precisar de diálise ou transplante renal; 
  • Danos às artérias: o paciente desenvolve doença arterial coronariana, que causa endurecimento das parede das artérias e aumenta as chances de um ataque cardíaco; 
  • Inflamação dos vasos sanguíneos no cérebro: causa febre alta, espasmos e mudanças comportamentais; 
  • Inflamações na pele: causa erupções cutâneas e úlceras na pele. É um sintomas bastante comum que afeta cerca de metade dos pacientes com esse tipo de lúpus. 

2. Medicamentoso

Ao contrário do tipo sistêmico, o lúpus medicamentoso não é uma condição crônica. Ele surge como um tipo de “efeito colateral” de certos tipos de remédios, como aqueles para: 

  • Hipertensão; 
  • Arritmia cardíaca; 
  • Tuberculose. 

É importante saber que nem todos que tomam esses remédios chegam a desenvolver lúpus. Somente alguns pacientes com predisposição sofrem com sintomas. Homens costumam ser mais afetados por receberem essas drogas com maior frequência. 

Em geral, os sintomas do lúpus medicamentoso demoram meses de tratamento contínuo ou até anos para surgirem. Após o diagnóstico, o paciente deve parar de tomar os medicamentos e pode demorar até seis meses para perceber melhora. 

Os principais sinais da condição incluem: 

  • Dor muscular e articular, algumas vezes acompanhada de inchaço; 
  • Fadiga e febre baixa; 
  • Inflamação nos pulmões ou coração; 
  • Anormalidades em testes laboratoriais.

3. Cutâneo

O lúpus cutâneo é aquele onde o paciente desenvolve somente sintomas na pele, como irritações e úlceras. Geralmente, os sintomas surgem em áreas mais expostas ao sol, incluindo: 

  • Rosto; 
  • Orelhas; 
  • Pescoço; 
  • Pernas. 

Para conseguir confirmar o diagnóstico da doença, é preciso realizar uma biópsia da lesão. Só assim podemos confirmar se o paciente sofre de lúpus ou de outros problemas que causam sintomas similares. 

É importante que o paciente procure um especialista para tratar as lesões, já que elas podem causar cicatrizes e marcas permanentes. 

4. Neonatal

O lúpus neonatal não é, na realidade, uma doença reumática. Ele é uma doença rara que surge por causa da incompatibilidade sanguínea entre bebê e mãe, que causa: 

  • Lesões na pele; 
  • Problemas hepáticos; 
  • Baixa contagem de células sanguíneas; 
  • Problemas cardíacos. 

Em geral, os sintomas desaparecem nos primeiros seis meses de vida sem precisar de tratamento. No entanto, é recomendado manter o acompanhamento médico para evitar complicações decorrentes da doença. 

Durante o pré-Natal, médicos conseguem identificar crianças com risco de nascer com a condição. Assim, é possível iniciar o tratamento rapidamente.

mulher se exercitando contra lúpus eritematoso sistêmico

Dúvidas comuns sobre lúpus eritematoso sistêmico 

Por ser uma doença pouco conhecida, pacientes recebem o diagnóstico de lúpus com muitas dúvidas. Respondemos as mais comuns abaixo!

1. Mulheres com lúpus eritematoso sistêmico podem engravidar? 

Sim! A maior parte das mulheres diagnosticadas com lúpus eritematoso sistêmico e que estão em tratamento podem engravidar normalmente e conseguem seguir até o final da gestação. Mulheres nessa condição são consideradas como um grupo de alto risco e precisam de acompanhamento ainda mais cuidadoso. 

Antes de começarem a tentar engravidar, futuras mamães portadoras de lúpus precisam garantir que a doença esteja em remissão há pelo menos seis meses. Engravidar enquanto a condição possui sintomas ativos aumenta muito as chances de aborto espontâneo e coloca a saúde da mãe em risco. 

O ideal é procurar um médico para orientar a mulher a respeito dos exames que deve realizar antes da gestação. Tudo para garantir que a gestação ocorra com a maior segurança possível. 

2. Quais são os fatores de risco para esse tipo de lúpus 

Apesar do lúpus poder afetar pessoas de todas as idades, incluindo crianças e adolescentes, os maiores grupo de risco são: 

  • Mulheres entre 15 e 44 anos; 
  • Público geral entre 20 e 40 anos;
  • Pacientes com outros quadros autoimunes ou reumatológicos. 

Esses grupos de risco nem sempre chegam a desenvolver a doença. Fatores ambientais também podem estar envolvidos na condição, gerando alterações que levam os anticorpos a interagirem de maneira errada e a atacarem o próprio corpo. 

3. Lúpus eritematoso sistêmico é hereditário? 

Ainda não existem evidências que provem com certeza que lúpus eritematoso sistêmico seja hereditário. Boa parte dos pacientes diagnosticados não possuem histórico familiar, levando especialistas a acreditar que outros fatores de risco, além da genética, estão envolvidos. 

Mesmo assim, existe uma pequena proporção de pessoas que desenvolvem a doença e também possuem familiares portadores de lúpus. A probabilidade do surgimento do lúpus nesses casos é um pouco maior que a do público geral. 

4. A doença é muito comum? 

O lúpus não é uma doença comum, com cerca de 200 mil pacientes diagnosticados somente no Brasil. Mesmo assim, é considerado como um problema reumatológico importante, já que é uma das doenças autoimunes mais graves quando não tratada. Sua forma mais grave, o lúpus eritematoso sistêmico, afeta cerca de 70% das pessoas com a condição. 

5. Lúpus leva a óbito? 

prevalência de morte prematura é maior em pacientes diagnosticados com lúpus, principalmente quando associado a outras doenças. Alguns indivíduos desenvolvem aterosclerose e outras doenças cardíacas. É importante lembrar que muitos desses problemas podem ser prevenidos com o tratamento correto.

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O Dr. Marcelo Corrêa é formado pela UFPA, com residência em Clínica Médica pela Universidade de Taubaté e em Reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina e Mestrado em Reumatologia pela mesma instituição. CRM/PA 6388. RQE 5441.

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