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Febre reumática e seus sintomas: quando uma dor de garganta não é apenas uma dor de garganta

ilustração de pessoa com dor na garganta por febre reumática - site Dr. Marcelo Corrêa reumatologista

A febre reumática pode acometer crianças na idade escolar e adolescentes (faixa etária dos 5 a 15 anos). Ela é uma inflamação com sintomas bastante variados, atingindo pele, coração, articulações e até o cérebro. 

Em casos mais raros, a inflamação atinge indivíduos acima dos 15 anos com sintomas bastante similares. No entanto, a partir dessa faixa etária o sistema imunológico torna-se mais resistente a esse tipo de inflamação. 

Geralmente a doença começa como uma dor de garganta que muitos pais tentam tratar em casa, sem visitar o pediatra ou reumatologista. Conforme o problema evolui, percebe-se que é mais grave e os sintomas podem gerar complicações, como veremos mais à frente. 

O que é febre reumática?

A febre reumática é uma doença inflamatória provocada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA). Esse agente também é responsável por enfermidades como a faringoamigdalite e o  impetigo.

A febre é classificada como uma complicação de um quadro de faringoamigdalite e ocorre quando o corpo tenta combater o problema tardiamente gerando uma resposta imune.

Os primeiros sinais são percebidos na garganta, como dor, pontos vermelhos, placas de pus, febre e aumento dos gânglios. Mas, após algumas semanas, os sintomas evoluem para a febre reumática.

Sendo assim, a faringoamigdalite é um fator ao qual deve-se ficar atento. Além disso, sabe-se que existe uma predisposição genética no desenvolvimento do quadro.

A febre reumática é parte do grupo das doenças reumatológicas?

A febre reumática faz parte do grupo dos reumatismos por ser uma deficiência autoimune. Essa classificação bastante ampla também é chamada de reumatismo, um termo que faz parte da população leiga confundi-la com uma doença única. 

Na realidade, condições que são classificadas como reumatismos são aquelas que atingem o aparelho locomotor do indivíduo, ou seja: 

  • Músculos; 
  • Articulações; 
  • Cartilagens; 
  • Tendões; 
  • Ligamentos. 

Seus sintomas são bastante variados, mas em geral elas causam dor por mais de seis semanas. Entre as doenças reumáticas podemos incluir diversas condições autoimunes, como lúpus erimatoso sistêmico e a própria febre reumática da qual falamos neste artigo. 

Outras doenças são bastante associadas à terceira idade, como artrites e osteoartrite. Mas é importante lembrar que tais condições podem atingir qualquer faixa etária. 

Mãe medindo febre de criança - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

Principais sintomas da febre reumática

A febre reumática ocorre de forma generalizada e afeta algumas partes do corpo de forma mais aguda. Os principais sintomas costumam estar relacionados à artrite, com dor aguda, inchaço e vermelhidão nas articulações, em especial joelhos, pulsos, cotovelos e tornozelos.

A febre também é um sintoma constante que pode estar acompanhado de movimentos descoordenados de membros superiores ou inferiores. Os sintomas motores acontecem tardiamente, muitas vezes se manifestando até seis meses depois da febre inicial. 

Por último, existem também sintomas cutâneos, que se manifestam na forma de nódulos indolores e vermelhidão na pele. Esse sintoma é mais raro e presente na maioria dos casos graves. 

Outros sintomas da febre reumática

Os sintomas da febre reumática variam de gravidade dependendo do quadro. Não existe um fator que determine quando o paciente terá somente febre ou sequer a apresentará nem se haverá complicações graves, como: 

  • Sopro cardíaco (ruído ouvido durante a auscultação do coração indica que um orifício está mais estreito do que deveria).
  • Cansaço e batedeira no peito após o esforço (outro sinal de comprometimento cardíaco).
  • Falta de ar.
  • Movimentos de pés e mãos incontroláveis.
  • Instabilidade emocional combinada com fraqueza muscular e movimentos rápidos. 

Critérios maiores

A doença causa diversos problemas, que são classificados em critérios maiores e menores.

Os critérios maiores são os seguintes:

  • Cardite: são inflamações que podem ocorrer em diversas áreas do coração. A cardite é a manifestação mais grave da doença, pois os pacientes podem ficar com sequelas e até mesmo vir a óbito. Essa manifestação geralmente surge de maneira precoce,  em até três semanas da fase aguda da enfermidade. Existem 4 tipos: subclínica, leve, moderada e grave;
  • Artrites: a artrite é uma doença reumatológica caracterizada pela inflamação de articulações. 75% dos pacientes desenvolvem essa condição, que pode atingir diversas áreas do corpo e, inclusive, migrar de um local para o outro, sempre provocando dor e inchaço;
  • Coreia de Sydenham: está presente entre 5 e 36% dos casos, sendo mais comum no sexo feminino. Esse tipo de manifestação faz com que o paciente execute movimentos involuntários, que desaparecem quando está dormindo e aumentam de intensidade durante episódios de estresse ou momentos em que é preciso fazer força. Outra característica é que a criança tem menos força nos braços e pernas e desenvolve fragilidade emocional, sendo mais suscetível a crises de choro e a ficar irritada. Geralmente os sintomas duram de 2 a 3 meses, mas podem permanecer por até 1 ano;
  • Nódulos subcutâneos: são caroços que aparecem abaixo da pele após 1 ou 2 semanas do surgimento de outros sintomas. Eles são indolores, móveis, arredondados e firmes ao toque. Geralmente têm relação com a cardite grave. Os nódulos costumam desaparecer com facilidade após o início do tratamento;
  • Eritema Marginado: são manchas avermelhadas que se manifestam em apenas 3% dos pacientes. Elas não causam coceira e nem dor, mas podem atingir o tronco e os membros inferiores e superiores.

Critérios menores para febre reumática

Já os critérios menores para febre reumática são caracterizados pelas seguintes manifestações:

  • Artralgias: são dores em grandes articulações, como o quadril. Entretanto, não resultam em inflamação e também não incapacitam o paciente;
  • Febre: é um sintoma comum durante os surtos de artrite, em que a temperatura corporal do paciente pode chegar a mais ou menos 38,5ºC;
  • Reagentes de fase aguda elevados: são diversos níveis que ajudam a monitorar a doença, por exemplo: velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), alfa 1 glicoproteína ácida e alfa 2 globulina;
  • Intervalo PR prolongado: classifica-se o intervalo PR como prolongado no eletrocardiograma quando ele é maior que 0,18 segundos em crianças e está acima de 0,20 segundos em adolescentes.

Os pais devem ficar atentos aos sintomas da febre reumática e informá-los ao reumatologista responsável conforme o quadro progride. Alguns desses sinais chegam a se tornar permanentes, como é o caso da cardite e da artrite que causa dor articular

O reumatologista deverá auxiliar no tratamento de cada um dos sintomas complementares da enfermidade até que o quadro fique mais estável. 

Febre reumática vs. artrites

Na febre reumática um dos sintomas é a artrite, doença autoimune e inflamatória que acomete diversas articulações no corpo, em geral na terceira idade. A inflamação faz com que o sistema imunológico ataque tecidos das articulações do corpo. 

A grande diferença entre a artrite encontrada na febre reumática e a convencional, comum em idosos, é sua duração. Após um episódio de febre todos os sintomas desaparecem, sendo que os danos são completamente reversíveis. 

Já a artrite convencional é crônica, ou seja, não existe cura. O paciente precisa de tratamento para evitar maiores danos articulares, mas não estará completamente livre da doença mesmo que tome as medicações prescritas. 

ilustração de pessoa com dor no joelho por febre reumática - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

O que provoca a febre reumática

A febre reumática ocorre como reação do organismo à infecção de garganta pela bactéria estreptococo. Os sintomas da inflamação são: dor intensa; caroços no pescoço; vermelhidão e gânglios inchados. 

Mesmo quando a inflamação é tratada, a febre pode surgir duas ou três semanas depois com todos os seus sintomas. Ainda não se sabe qual é o marcador que determina quando uma pessoa deve ou não desenvolver febre reumática após esse tipo de infecção. 

Diagnóstico da doença com reumatologista

O diagnóstico da febre é clínico e feito pelo reumatologista ou pediatra que atender o paciente pela primeira vez. Para conseguir determinar a presença da doença, o médico precisará analisar o histórico de saúde do paciente e exame físico. Quando necessário, a criança também realizará um exame laboratorial para encontrar sinais de inflamação. 

Pacientes que apresentam dor de garganta recente precisam fazer exame para identificar a bactéria causadora. Isso ajuda a determinar o antibiótico que será usado no tratamento. O exame é simples e realizado com uma amostra de secreção da garganta e sangue do indivíduo infectado. 

Exames complementares no diagnóstico de febre reumática

Os exames indicados por médicos reumatologistas para combater o quadro variam de acordo com os sintomas de febre reumática. O exame laboratorial ASLO (antiestreptolisina O), por exemplo, ficou popularmente conhecido como uma ferramenta de diagnóstico, mas ele não consegue identificar a doença isoladamente. 

Na realidade, o teste identifica o anticorpo antiestreptolisina O que o sistema imunológico produz, visando combater uma bactéria específica. Ele só permite a detecção, quando a criança teve infecção pela bactéria estreptococos. Caso não exista quadro clínico que aponte para a doença, o seu valor não é de diagnóstico. Estatísticas revelam que somente 3% das crianças que apresentaram taxas elevadas no exame ASLO realmente tinham febre reumática. 

Outra dúvida comum dos pais é se há possibilidade de verificar a predisposição dos filhos para o desenvolvimento da febre. Ainda não existem pesquisas que comprovem métodos para isso, contudo, a medicina está evoluindo nessa direção. 

Critérios de Jones 

Essas informações são utilizados para identificar a ocorrência primária e as recorrências da doença, considerando se a pessoa já manifestou sintomas da enfermidade inflamatória e a quantidade dos critérios maiores e menores.

Para facilitar o entendimento, observe a tabela abaixo.

CategoriasCritérios de Jones
Primeira manifestação de febre reumáticaSão necessários dois critérios maiores ou um critério maior e dois critérios menores, além de sinais claros de infecção estreptocócica anterior
Manifestações subsequentes em pessoas sem cardiopatia reumática crônicaOs mesmos critérios do item acima
Manifestações subsequentes em pessoas com cardiopatia reumática crônicaDois critérios menores e mais alguma evidência de uma infecção estreptocócica anterior

Diagnóstico diferencial de febre reumática

O diagnóstico diferencial de febre reumática inclui as doenças que podem ser consideradas como possíveis causadoras do quadro clínico do paciente. Isso ajuda o médico a enxergar o quadro de forma mais ampla e a não correr o risco de perder um diagnóstico por não ter avaliado diversas hipóteses.

O reumatologista pode considerar diversas possibilidades para explicar as várias manifestações da doença:

  • Cardite: lúpus eritematoso sistêmico, perimiocardites, artrite idiopática juvenil e pericardite;
  • Artrite: caxumba, vasculites, endocardite bacteriana, anemia falciforme e rubéola;
  • Coreia de Sydenham: coreia familiar benigna, encefalites virais e síndrome anti-fosfolípide;
  • Eritema marginado: septicemias.

Tratamentos 

A primeira atitude do médico ao diagnosticar esse tipo de quadro é iniciar o tratamento da infecção de garganta, mesmo que ela aparentemente já tenha passado. Para isso, utiliza-se uma única aplicação de penicilina em doses variadas de acordo com a idade e peso da criança. 

Depois de iniciar o tratamento com antibiótico, também começa-se a utilizar os anti-inflamatórios para combater a artrite e outros sintomas secundários. Os medicamentos continuarão em uso por 4 a 6 semanas e os pais devem estar conscientes da importância de não encerrar seu uso antes de recomendado por um médico. 

Alguns casos exigem a profilaxia secundária, que é a aplicação de novas doses de penicilina a cada 21 dias para prevenir o retorno da doença. Durante todo o período do tratamento o paciente precisa permanecer em repouso e deve ficar isento das atividades escolares. Mesmo depois de voltar à escola, o paciente ainda precisa manter a dispensa da educação física por 2 a 3 meses. 

Criança se sentindo doente - Dr. Marcelo Corrêa Reumatologista de Belém do Pará

Conduta terapêutica voltada aos sintomas secundários da febre reumática

Depois de conseguir controlar o quadro febril, o reumatologista foca nos sintomas secundários da febre reumática, com o objetivo de evitar que se tornem crônicos. A criança que desenvolveu artrite, por exemplo, recebe um anti-inflamatório não hormonal, para controlar dor, inchaço e vermelhidão. O medicamento mais comum é o ácido acetilsalicílico, o popular AAS. 

Em casos de comprometimentos cardíacos, o paciente passa por exames específicos, com a finalidade de determinar o nível de danos. Posteriormente, utilizam-se medicamentos anti-inflamatórios corticoides, com o intuito de melhor controle. Os corticoides também fazem parte do tratamento dos movimentos involuntários comuns nesses casos. 

Para tratar os sintomas de Coreia é indicado o repouso e também a permanência em um lugar calmo, livre de qualquer estímulo externo. Essa abordagem é extremamente eficiente em casos leves e moderados.

Mas o paciente que sofre de quadros mais graves terá que tomar algumas medicações, como benzodiazepínicos e fenobarbital. Após a febre desaparecer, o médico pode solicitar alguns exames, como PCR e/ou VHS, que devem ser repetidos a cada 15 dias  para certificar-se de que os níveis estão normais e o paciente está totalmente recuperado e já pode suspender o tratamento. 

Por fim, é importante lembrar que a febre reumática tem cura e o paciente pode se recuperar totalmente de todos os sintomas. Por isso, é salutar que os pais estejam atentos a qualquer sinal da doença e levem os filhos ao médico diante de qualquer problema na garganta.

Assim como acontece em várias doenças, o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento, já que é possível controlar o quadro antes que ele evolua para complicações graves que podem até mesmo deixar sequelas.

Importância da profilaxia secundária com penicilina

Essa é a medida que mais faz a diferença nos casos de febre reumática. Quando a profilaxia com o antibiótico não acontece, existem maiores chances do retorno da doença nos próximos anos.

Por isso, a criança deve receber novas doses de penicilina a cada 21 dias. É pouco comum usar outra droga, mesmo antibióticos específicos, para realizar esse tratamento após o primeiro episódio. A eficácia da penicilina já está confirmada na literatura médica, tornando-a o medicamento de escolha em quase todos os casos. 

Além de possuir baixo custo, o remédio tem menor incidência de efeitos colaterais na faixa etária mais afetada pela doença. 

A duração final da abordagem terapêutica com o antibiótico varia um pouco. Em geral, os pacientes continuam recebendo as aplicações até os 21 anos de idade ou cinco anos após o último surto de febre. Em caso de cardites ou insuficiência, o indivíduo deve receber o remédio até os 25 anos ou 10 anos depois do último surto. Sempre vale a opção que cobrir mais tempo. 

Tratamento para pacientes com alergia à penicilina

Embora a penicilina seja altamente eficaz para o tratamento, há de se considerar que algumas pessoas são alérgicas ao medicamento. Esse tipo de alergia é extremamente raro, mas ao identificá-lo, o especialista pode recorrer a outras opções, como:

  • Claritromicina
  • Azitromicina;
  • Clindamicina;
  • Cefalosporinas.

Quando for necessária a profilaxia secundária, é possível usar a sulfadiazina.

Entretanto, se o paciente tiver alergia aos dois medicamentos, a terceira opção é um macrolídeo.

Mão segurando injeção - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

Complicações da condição reumatológica

A complicação mais grave da febre é a cardite, uma inflamação nas três camadas de tecido que revestem o coração. Casos como esse sofrem com sopro, uma condição que causa aumento da frequência cardíaca durante o esforço, deixando a criança cansada ao correr e brincar. 

Quando acontece, o paciente pode ter sequelas pelo resto da vida. Em casos de febre reumática repetida as chances de desenvolver cardite aumenta. Por isso, alguns médicos indicam que as doses de penicilina sejam repetidas até os 21 anos. 

Em crianças que já apresentaram cardite durante o primeiro quadro da febre, a penicilina deverá ser aplicada até os 25 anos. Quadros graves com sequelas precisam de aplicação por um período mais longo ou até pelo restante da vida. 

Existe prevenção para a febre reumática? 

Como não se sabe ao certo quais gatilhos da infecção pela bactéria estreptococo causa a febre reumática, é importante tratar o problema rapidamente. Assim que os pais percebem sinais de dor de garganta, devem recorrer ao médico, o único que saberá identificar se é necessário ou não realizar o tratamento com antibióticos. 

Tratamento de faringite ou amigdalite como prevenção dos sintomas da febre reumática

Como sabemos, os sintomas de febre reumática desenvolvem-se após infecções na garganta por Streptococcus pyogenes que não foram tratadas corretamente. Então, é essencial que os pais fiquem atentos aos primeiros sinais de faringite ou amigdalite e procurem por um médico imediatamente.

Além disso, é fundamental seguir o tratamento rigorosamente do início ao fim, mesmo depois que a criança ou o adolescente não apresentar mais nenhum sintoma. 

Já os pacientes em que a doença se manifestou devem prosseguir com as injeções de Benzetacil até o fim, com o intuito de prevenir novos surtos e possíveis complicações.

Retirar as amígdalas faz parte do tratamento? 

Apesar de algumas pessoas acreditarem que remover as amígdalas ajuda a prevenir infecções de garganta e, consequentemente, esse tipo de febre em crianças, este não é o caso. Mesmo sem esses órgãos, o paciente ainda pode desenvolver a infecção nas paredes da garganta.

Médica verificando se uma criança tem febre reumática - Dr. Marcelo Corrêa, reumatologista de Belém - PA

Por que a retirada de amigdalas não é recomendada na febre reumática?

A prática de retirar amígdalas em quadros de febre reumática era bastante comum nas gerações anteriores. No entanto, ela deixou de ser praticada conforme estudos demonstraram a importância desta estrutura. 

Hoje sabemos que as amígdalas são órgãos responsáveis por prevenir alguns tipos de infecções. Em estudos, indivíduos que tiveram as estruturas retiradas sofreram com maior incidência de doenças respiratórias, como: gripe, asma e bronquite. 

Além disso, não existem evidências de que sua retirada ajude na prevenção de novos episódios da febre. Isso acontece porque a bactéria se aloja em outras regiões da garganta. E, em geral, médicos só recomendam o procedimento cirúrgico quando o paciente sofre com mais de 7 infecções em um ano.

Recuperação da febre reumática

Na febre reumática, após o período de tratamento o paciente se recupera da maior parte dos sintomas agudos, como: 

  • Articulações inchadas; 
  • Irritações na pele; 
  • Febre; 
  • Incômodos estomacais; 
  • Dificuldades de movimentos. 

Somente pacientes que sofreram com problemas cardíacos podem sentir sintomas a longo prazo, mas falaremos mais a respeito nos próximos tópicos. 

Nos meses após a infecção, é necessário receber uma injeção de antibióticos mensais por 10 anos ou um período estabelecido pelo médico. O objetivo é evitar a reinfecção pela bactéria, que tende a ser mais agressiva em episódios posteriores. 

Além disso, o paciente precisa ser extremamente cuidadoso com tratamentos dentários que deixam o corpo mais vulnerável à infecção. Antes de realizar qualquer tipo de tratamento, o indivíduo ou seus responsáveis devem avisar ao dentista sobre episódios anteriores desse tipo de febre para que ele providencie tratamento com antibióticos. 

Cuidados de rotina com os dentes também são importantíssimos para prevenir infecções. 

Sintomas permanentes da febre reumática

Infelizmente, alguns casos mais graves da febre reumática desenvolvem alguns sintomas permanentes. O coração é o órgão que mais sofre nesses casos, já que danos a suas células dificilmente conseguem recuperar-se. 

Por isso, é importante buscar o médico ao primeiro sinal de reumatismo. O tratamento rápido ajuda a controlar os sintomas e evitar maiores danos ao organismo. Confira abaixo alguns sintomas duradouros da doença. 

Artrite

Em geral, pacientes percebem melhora rápida do inchaço e vermelhidão nas articulações, no caso de artrite reumatoide. No entanto, uma quantidade pequena de indivíduos tratados para o problema continuam com a sensibilidade articular relacionada à febre. 

A artrite pode tornar-se um problema duradouro, especialmente quando estamos falando de um caso de febre reumática de repetição. Tornozelos, joelhos e pulsos geralmente são os que mais sofrem com dores. 

Rigidez articular também é um sintoma bastante comum, principalmente pela manhã, logo depois de acordar. O paciente precisará tratar a artrite, além de receber o tratamento com antibióticos, para conseguir melhoras perceptíveis. 

Cardite e outros problemas cardíacos

Um problema comum em pacientes com a febre são os danos cardíacos, mas eles podem não causar qualquer tipo de sintomas. Algumas pessoas só descobrem os problemas cardíacos que ocorreram por causa da infecção bacteriana anos mais tarde, quando precisam fazer algum exame de rotina. 

Outros pacientes percebem o coração batendo rapidamente em algumas ocasiões, febre e dor torácica causada por inflamação no tecido cardíaco. Também é possível desenvolver sopro, sons que ocorrem quando o fluxo sanguíneo passa pelo coração. 

Ainda existe um sintoma duradouro comum da doença: insuficiência cardíaca. Quem desenvolve o problema sente cansaço, falta de ar, náusea, entre outros sintomas. 

As consequências da inflamação cardíaca costumam demorar cerca de cinco meses. Contudo, os danos às válvulas do coração podem ser permanentes, gerando fibrilação atrial ao longo da vida.

mulher sendo examinada no pescoço por febre reumática - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

Formas de aliviar as manifestações agudas da febre reumática

Os problemas agudos que podem surgir em decorrência da febre reumática precisam ser tratados com uma abordagem específica para cada manifestação.

Tratamento de cardite

Neste caso, o primeiro passo é definir a gravidade do problema por meio de uma ecocardiografia. Assim é possível iniciar o tratamento rapidamente para controlar a insuficiência cardíaca. Quando há complicações cardíacas é fundamental que o paciente fique de repouso.

Quanto ao uso de anti-inflamatórios, imunoglobulina intravenosa e glicocorticoides, não há dados suficientes para sustentar os seus benefícios.

Tratamento para artrites

Os medicamentos anti-inflamatórios são a forma mais eficaz de tratar a artrite relacionada à febre reumática. Eles devem ser administrados até o desaparecimento dos sintomas, o que costuma ocorrer dentro de 1 ou 2 semanas desde que não haja qualquer intolerância ao tratamento.

Tratamento de Coreia de Sydenham 

A Coreia de Sydenham é uma condição que geralmente melhora sozinha. O tratamento costuma se resumir a antibióticos que visam impedir que a febre retorne, além de prevenir problemas cardíacos. 

Nos casos em que os sintomas são muito fortes e prejudicam o dia a dia do paciente, os reumatologistas costumam receitar o uso de ácido valproico. Mas quando os sintomas persistem, terapias com imunoglobulina intravenosa, esteróides e um processo chamado plasmaferese já foram tentadas, mas não há comprovações sobre quão eficientes estes tratamentos são.

Criança com febre - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

Dúvidas comuns

Por ser uma doença que ocorre principalmente em crianças de idade escolar, os pais têm muitas dúvidas quanto ao diagnóstico e tratamento. Confira os principais questionamentos abaixo respondidos por um especialista.  

1. Como saber se é febre reumática ou dor de garganta?

Na febre reumática um dos erros mais comuns que prejudicam o tratamento é deixar de buscar ajuda logo no início da infecção. Alguns pais imaginam que é possível perceber quando a criança apresenta esse tipo de febre. No entanto, é bastante difícil perceber à olho nu as alterações na garganta. 

A infecção da febre é caracterizada por vermelhidão intensa ou placas de pus na garganta, além dos sintomas secundários. Mas os pais não devem esperar o surgimento desses sinais. O ideal é procurar reumatologistas ou pediatra para avaliar o quadro assim que a infecção começa. 

Em muitos casos, a criança é infectada pela bactéria causadora e, com o tratamento adequado, não chega a desenvolver a doença. 

2. Quais são as chances de um novo episódio da doença?

Contanto que o paciente receba o tratamento adequado e mantenha as injeções de antibióticos, as chances de um novo episódio desse tipo de doença são pequenas. Contudo, médicos alertam que pais e responsáveis precisam continuar cuidadosos, já que os antibióticos não protegem completamente contra uma nova infecção. 

Realizar os passos preventivos que já mencionamos acima ajuda a garantir a qualidade de vida do paciente, além do acompanhamento de rotina com reumatologistas. 

Só o médico pode indicar quando é seguro parar com a aplicação de antibióticos. Interromper o tratamento precocemente aumenta as chances de uma nova infecção e de danos cardíacos futuros. 

3. Existe maior risco de problemas cardíacos em novos quadros da febre?

O comum é que cada novo episódio da febre apresente sintomas mais graves, especialmente quanto ao dano cardíaco. Caso isso não aconteça, os pacientes devem levar uma vida normal sem grandes incidentes. 

4. Existe vacina para a doença? 

No Brasil já existem diversos grupos de pesquisa em busca de uma vacina para o problema, mas ainda não existe uma vacina para o problema. Mesmo assim, é importante que os pais sigam o cronograma vacinal para evitar diversas outras doenças comuns nessa faixa etária. 

Garota com febre reumática - Dr. Marcelo Corrêa Reumatologista de Belém do Pará

5. Por que crianças sofrem mais com doenças reumatológicas desse tipo? 

A febre pode ocorrer em qualquer idade, mas crianças são mais afetadas. As faixas etárias que geralmente apresentam a infecção são de 5 a 15 anos, sendo que essa doença reumatológica é muito rara abaixo dos 3 anos e em adultos. 

Um dos fatores que influencia nessa incidência é o sistema imunológico ainda não completamente desenvolvido. Além disso, crianças costumam ficar aglomeradas em locais com outras pessoas da mesma idade sujeitas à infecção, como: escolas e creches. Assim, fica mais fácil de transmitir a bactéria. 

Também existe um fator genético relacionado à doença. Algumas crianças herdam a maior tendência de desenvolverem febre reumática após uma infecção de garganta.

6. Essa doença só atinge crianças e adolescentes?

Não. Embora a ocorrência seja mais comum entre os 5 e os 15 anos de idade, isso não é uma regra. Pois, em casos raros, a doença pode se manifestar em adultos, com os primeiros sinais surgindo por volta dos 20 anos de idade. Por isso, é sempre importante ficar atento aos sintomas e buscar ajuda médica.

7. Existem testes específicos para diagnosticar a febre reumática e seus sintomas?

Não. A febre reumática e seus sintomas, assim como outras doenças reumatológicas, são averiguados a partir de um diagnóstico complexo por um reumatologista, seja da Unimed ou de outro plano de saúde.

O médico especialista deve realizar uma avaliação física e diversos exames laboratoriais, tais como: teste para verificar a infecção por Estreptococos do grupo A; de sangue; eletrocardiograma; e ecocardiograma. 

8. Quais as consequências dessa condição reumática?

Essa doença pode ter várias consequências, sendo que algumas são mais comuns do que outras. Por exemplo, a poliartrite migratória atinge cerca de 75% dos pacientes, enquanto de 40% a 60% sofrem de cardite.

Já mencionamos a cardite diversas vezes neste artigo, mas a poliartrite migratória merece uma explicação um pouco mais aprofundada. Esse tipo de artrite é provocado por uma infecção, seja por bactéria, vírus ou fungo que penetra no organismo e afeta uma articulação.

O agente causador do problema pode alcançar o local ao se deslocar por meio do sangue ou ao penetrar diretamente em um ferimento perto da articulação. Entretanto, quando se trata de febre reumática, a origem do micro-organismo é uma infecção na garganta.

Os sintomas podem atingir uma articulação e, depois, acabar se espalhando devido ao caráter migratório da doença, fazendo com que o local fique quente, vermelho e dolorido. Também é possível que surjam outros sinais, como febre alta, cansaço e mal-estar.

8.1. E quais os agentes causadores do problema?

Os principais agentes desse tipo de artrite são as bactérias Staphylococcus aureus e Neisseria gonorrhoeae. Em crianças, a doença é geralmente causada por Estreptococos do grupo B, S. aureus e bacilos entéricos gram-negativos. Nos pacientes menores de 5 anos de idade, os causadores costumam ser a Haemophilus influenzae, S. aureus e Streptococcus pyogenes. Já em adolescentes, é comum que a enfermidade surja devido à bactéria Neisseria gonorrhoeae.

Para diagnosticar a poliartrite migratória, é necessário analisar o líquido sinovial da articulação atingida. A infecção faz com que esse líquido tenha um aspecto diferente e contenha um grande número de bactérias.

Os resultados dos testes laboratoriais, além de confirmarem o problema, fornecem indicações sobre o tratamento. A abordagem mais usual é a administração de antibióticos contra a bactéria causadora do infecção. Contudo, em alguns casos, o médico também realiza uma lavagem articular, com a finalidade de retirar de uma só vez um grande número de micro-organismos.

9. O que é coreia?

A coreia pode ser outra consequência grave da doença que afeta cerca de 15% dos pacientes com febre reumática. Nesse estágio, ocorre uma inflamação no sistema nervoso que prejudica os movimentos.

Assim, a criança ou o adolescente começa a sofrer com espasmos que atingem os braços, as pernas e a face. Esses movimentos sempre são totalmente involuntários e descontrolados. O problema torna-se ainda pior em momentos de estresse ou quando é necessário realizar esforços físicos.

Além disso, a coreia compromete fortemente o emocional dos pacientes. Por isso, é normal que crianças com o problema chorem frequentemente, acabem se irritando com facilidade e fiquem mais agressivas.

homem conferindo termômetro por febre reumática

10. Como a febre reumática começa a apresentar sintomas no coração?

Em função da cardite, a febre reumática provoca sintomas no coração que são preocupantes. Nesse caso, as três partes do órgão podem sofrer danos: pericárdio, miocárdio e endocárdio. Desse modo, até mesmo as válvulas do coração podem inflamar e sofrer lesões altamente prejudiciais.

A válvula mitral costuma ser a mais atingida, o que pode ocasionar uma situação chamada de insuficiência mitral. A principal complicação desse tipo de lesão é o sopro no coração, que pode ser identificado pelo médico durante um exame físico.

Esse é um quadro grave que corresponde a 40% das cirurgias cardíacas realizadas no Brasil.

11. Quais as possíveis sequelas da enfermidade e como lidar com elas?

As sequelas mais comuns são aquelas ligadas aos problemas cardiológicos. Nesses quadros, o paciente deverá fazer a prevenção com penicilina pelo resto da vida.

12. Quais são as perspectivas de longo prazo para pacientes com essa doença reumatológica?

As perspectivas de longo prazo podem variar de acordo com o tempo para iniciar o tratamento e as complicações encontradas. Porém, de forma geral, os pacientes que recebem tratamento adequado fazem um acompanhamento médico regular e adotam um estilo de vida saudável. Assim, eles conseguem levar uma vida plena.

Portanto, é primordial que o paciente tenha uma alimentação equilibrada e pratique exercícios físicos, além de controlar fatores agravantes, como a hipertensão e o diabetes.

13. Como esse tipo de reumatismo impacta a vida cotidiana dos pacientes?

Os sintomas da doença podem afetar a vida dos pacientes em vários níveis, pois é comum que haja dor e rigidez nas articulações, o que impõe limitações físicas até mesmo para atividades simples, como caminhar. Inclusive, isso pode dificultar a prática de exercícios.

Além disso, a rotina diária é impactada pelas frequentes consultas médicas, podendo ainda desencadear preocupações emocionais e psicológicas.

14. Em que condições os sintomas da febre reumática são mais comuns?

Sabe-se que os sintomas da febre reumática surgem com maior frequência em locais onde as condições de vida não são totalmente adequadas e em populações economicamente desfavorecidas.

Entretanto, esses fatores não são suficientes para nos dar respostas concretas sobre a ocorrência da doença. Especialistas acreditam que também há uma predisposição genética associada ao aparecimento do problema.

Mãe dando xarope para menino - Dr. Marcelo Corrêa, reumatologista de Belém - PA

15. Como saber se o meu filho tem febre reumática

Para saber se o seu filho sofre de febre reumática, é fundamental ficar atento aos sintomas que citamos neste texto, como dor nas articulações, fraqueza, febre persistente e outros. Além disso, os pais devem observar alguns sinais de alerta, como dificuldades para caminhar ou realizar atividades corriqueiras durantes brincadeiras, quedas e tropeços constantes, dores frequentes, cansaço frequente e dificuldades para dormir devido à dor e incômodos.  Ao identificar qualquer sinal, marque uma consulta com um reumatologista, pois ele é o profissional capacitado para fazer o diagnóstico e passar o tratamento.

16. Quanto tempo dura a febre reumática?

A febre reumática não tem uma duração fixa. Isso varia de paciente para paciente e pode ser influenciado por fatores, como o grau de comprometimento dos órgãos e a velocidade para fazer o diagnóstico.

De forma geral, os sintomas da fase aguda podem durar algumas semanas ou até meses. Quando há complicações cardíacas o tratamento costuma se estender por muito tempo. Em alguns casos, o reumatologista irá receitar injeções de benzetacil com intervalos de 21 dias até que o paciente complete 25 anos.

Mesmo que os sintomas desapareçam, é fundamental seguir o tratamento até o fim e continuar com o acompanhamento médico, assim é possível evitar novas crises ou complicações em outros momentos da vida.

17. É possível identificar qual criança tem essa predisposição?

Ainda não é possível  fazer este tipo de identificação, mas alguns estudos estão em andamento para tentar descobrir qual é o marcador da doença e os especialistas acreditam que surgirão novidades animadoras em breve.

18. Uma criança com esta enfermidade sempre vai apresentar febre?

Não. Apesar do nome da doença levar as pessoas a este engano, a febre nem sempre está presente. Este é um sintoma comum durante a infecção da garganta, mas pode ser que ele não se manifeste quando a FR de fato começar.

19. A presença do anticorpo ASLO é usado para o diagnóstico da doença?

Não. Na verdade, o anticorpo ASLO é produzido pelo organismo como uma resposta ao estreptococo quando há uma infecção de garganta. Então sua presença indica apenas que a criança chegou a ser infectada por esta bactéria. Entretanto, a simples presença do ASLO sem outros sinais típicos de FR não são o suficiente para um diagnóstico.

Além disso, estudos indicam que apenas 3% das crianças que tiveram infecção de garganta por estreptococo desenvolvem FR. 

20. Toda criança que teve infecção na garganta pode desenvolver febre reumática?

Não. Somente crianças com uma predisposição genética herdada dos pais irão desenvolver a febre reumática. Muitas pessoas sofrem com infecções na garganta desde os primeiros anos de vida, mesmo assim o problema não evolui para a FR em todos os casos.

21. O uso prolongado de penicilina causa alguma complicação?

Não há indícios de que o uso de penicilina gere qualquer problema além de uma leve dor no local da aplicação. Mesmo quando o medicamento é administrado por muitos anos, não há evidências de que prejudique o esmalte dos dentes, os ossos da criança ou que a bactéria estreptococo desenvolva resistência.

22. Retirar as amígdalas ajuda a melhorar as manifestações da doença?

Esta prática não ajuda a resolver o problema, pois na ausência das amígdalas a infecção pode se desenvolver nas paredes da garganta.

23. O que pode acontecer se a criança tiver mais de um surto da doença?

Novos surtos da doença aumentam o risco de comprometimento cardíaco ou podem fazer com que este comprometimento piore. Nos casos mais graves será necessária uma intervenção cirúrgica para troca da válvula cardíaca.

Mãe cuidando da criança com febre - Dr. Marcelo José Uchoa Corrêa Reumatologista de Belém - PA

Epidemiologia da febre reumática

A febre reumática causada por bactérias desse tipo é rara em pessoas com idade mais avançada. Os públicos mais atingidos pela enfermidade são as crianças e os jovens até 18 anos. Estima-se que isso acontece em razão da alta incidência de faringotonsilite entre os 5 e 18 anos de idade. 

Esse tipo de infecção ocorre na faringe, palato mole, tonsilas e alguns órgãos linfoides. É fundamental destacar que nem todos com a infecção chegam a desenvolver a febre reumática. Na realidade, a faringotonsilite também faz parte de alguns quadros virais e apenas o reumatologista é capaz de diferenciar os sintomas da forma correta. 

No Brasil, existem cerca de 10 milhões de casos de faringotonsilite, boa parte deles pediátricos. Do total, cerca de 30 mil desenvolvem-se para a febre que comentamos neste artigo. Nos EUA, o número é ainda mais reduzido, fazendo com que especialistas considerem condições socioeconômicas como fator de risco importante da doença. 

Fisiopatologia 

Para que um paciente tenha a febre, a infecção estreptocócica beta-hemolítica sempre deve atingir a faringe. Mesmo que exista um quadro bacteriano em outras áreas, não é considerado um indício da febre. Somente essa região gera a resposta anti-inflamatória imune correta. 

Isso acontece porque há uma pequena semelhança entre as células dos patógenos (bactérias) e da área afetada. Assim, o sistema imunológico acaba atacando também células da faringe e provocando uma série de sintomas complementares que já vimos anteriormente. 

O mesmo ocorre quando existe comprometimento cardíaco. Algumas células do coração podem possuir estruturas parecidas, tornando-se alvo da ação de defesa do organismo. Dessa maneira, surgem lesões inflamatórias autoimunes que proporcionam a cardite. 

O risco genético para o desenvolvimento do problema inclui o D8/antígeno celular 17 B e certos antígenos de histocompatibilidade classe II. Mas também é preciso considerar fatores ambientais, como desnutrição, superpopulação e más condições socioeconômicas.

Artrite reativa pós-estreptocócica

A artrite reativa pós-estreptocócica é caracterizada pela inflamação das articulações após uma infecção por  estreptococos. Entretanto, os sintomas não são tão prejudiciais quanto os da febre reumática, não havendo, por exemplo, comprometimento cardíaco.

Este tipo de artrite se desenvolve em poucas articulações, geralmente 1 ou 2, mas pode durar por mais tempo. Nesses casos, o tratamento com ácido acetilsalicílico não apresenta resultados tão satisfatórios.

Para fazer um diagnóstico correto é fundamental excluir outras doenças com sintomas parecidos, como  artrite de Lyme e artrite idiopática juvenil. Após a confirmação, o médico costuma receitar anti-inflamatórios, como o ibuprofeno, que ajuda a aliviar as dores e outros sintomas. 

Para evitar qualquer comprometimento cardíaco o paciente deve tomar medicamentos  antiestreptocócicos por um período de alguns meses a 1 ano. Entretanto, se o médico identificar qualquer lesão no coração durante os exames, o tratamento pode se prolongar.

Por que os pais devem aproveitar a telemedicina no caso de febre reumática?

O tratamento de um paciente com a febre reumática é longo e cansativo para os pais e os familiares mais próximos. O surto inicial pode demorar meses para passar de fato, período quando a criança fica em repouso total e isolada das atividades escolares. Qualquer pequena mudança de quadro gera medo e preocupação, mas é difícil ter que se deslocar até a clínica a todo o momento. 

Durante a pandemia da Covid-19 em 2020, o CFM (Conselho Federal de Medicina) liberou o uso da telemedicina. O atendimento à distância é uma ótima forma de manter o acompanhamento constante com o reumatologista, sem precisar de grandes deslocamentos. 

É claro que a consulta presencial ainda é importante, momento em que o médico consegue realizar a avaliação clínica e o diagnóstico do paciente. No entanto, após as primeiras consultas e quando os sintomas já foram controlados, vale a pena prosseguir com o acompanhamento pela telemedicina. 

Desse modo, é possível tirar dúvidas pontuais e informar sobre qualquer alteração no quadro rapidamente. Isso também é válido nos intervalos de 21 dias entre as aplicações rotineiras de penicilina que fazem parte da profilaxia.

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O Dr. Marcelo Corrêa é formado pela UFPA, com residência em Clínica Médica pela Universidade de Taubaté e em Reumatologia pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina e Mestrado em Reumatologia pela mesma instituição. CRM/PA 6388. RQE 5441.

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